Breve reflexão sobre a aceitação pública da deficiência em idade adulta
Peço permissão ao Miguel 7 estacas que é um grande profissional e um ser humano que eu tenho o prazer de conhecer e de quem é muito fácil gostar.
Mas como esta intervenção é pública, queria partilhar convosco uma reflexão minha mais abrangente, sobre este testemunho muito interessante,
embora
altamente condicionado pelo formato do programa em questão, em que a lágrima se verte com uma tremenda facilidade. Mas de facto isto devia dar que pensar.
Reparem que este testemunho do Miguel é em tudo idêntico ao de muitos cegos tardios, que, mesmo com apoio psicológico demoram anos a fio a tomarem verdadeiramente
contacto com a Bengala.
Acresce que o Miguel é figura pública e aqui já não podemos usar algumas das estratégias que se usam em relação a outros casos,
que é começar a usá-la fora do seu habitat natural, onde ninguém os conheça.
Este caso é similar também a muitos outros noutro comportamento muito característico.
Têm à vontade em falar do seu problema, brincam até com isso, e creio que é uma atitude muito salutar e altamente terapêutica.
Mas até à aceitação prática
demora muito tempo, e depende de um processo mental, interior que varia muito de pessoa por pessoa.
Ou então, como acontece tantas vezes, vêm à tona o
instinto de sobrevivência do ser humano,
e quando somos impelidos a ser mais autónomos à força, acabamos por ultrapassar assim pela esquerda todos esses
obstáculos, e desenvolvemos as nossas próprias estratégias.
Cada vez mais é importante que tenhamos exemplos de pessoas com deficiência que sejam bem sucedidas,
que possam ter exposição pública e que possam ajudar a quebrar barreiras,
só assim podemos ajudar à normalização,
até porque o ser humano precisa de referências
que lhe possam mostrar em concrecto até onde pode chegar.
E nesta situação essas referências a meu ver são mesmo essenciais, porque das primeiras questões
que um cego tardio deve fazer é.
Afinal o que é que eu gostava de conseguir fazer na vida?
Gostava de andar sozinho?
De desempenhar com autonomia as tarefas
da vida diária?
De aceder à informação?
De escrever e ler?
E depois à medida que vão surgindo essas respostas e se vai desenvolvendo a consciência que essas competências são essenciais para o indivíduo cego, vão-se desenvolvendo as técnicas necessárias. Miguel confessa a dor de não poder ver os filhos
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