Abril é mês de festa e celebração mesmo para quem não viveu a ditadura
Nunca como hoje fez tanto sentido celebrar Abril e os seus ideais.
Solidariedade, companheirismo, camaradagem, fraternidade, em suma liberdade, é algo que temos de resgatar para o nosso quotidiano.
Nasci em 1981, não vivi por isso o estado novo, e sempre vivi num país onde, supostamente, em teoria temos liberdade de expressão, e onde podemos ser diferentes sem que sejamos discriminados.
Mas hoje, infelizmente o país está doente. E não é de agora. Há muitos anos que muita gente vive amordaçada, com o emprego prezo por um fio, e por isso se sente intimidada a exprimir livre e integralmente o seu pensamento.
Essas companheiras, esses companheiros, sabem que se ousarem dizer aquilo que não devem, arriscam-se a serem postos no olho da rua.
Hoje, estamos a matar o homem enquanto ser único e irrepetível, ser pensante, com anseios, objectivos, ideais, alegrias, tristezas e frustrações, e em vez disso estamos a produzir lacaios. Pessoas sem vez nem voz, que muitas vezes até se encostam ao poder vigente para obterem dividendos, enquanto aqueles que assumem a diferença vão sendo proscritos.
Hoje, a comunicação social está na mão de grandes grupos económicos, que condicionam a liberdade de informação, porque aquilo que nos chega é filtrado, não é democrático, estamos longe de ter uma informação isenta e totalmente verdadeira.
No estado novo havia uma esperança, as pessoas sabiam para onde queriam ir, havia um caminho, uma luz ao fundo do túnel, e foi essa chama que inspirou os capitães de Abril. Estes homens heróicos, destemidos, que quiseram libertar a pátria de um regime que a oprimia à muitos anos.
Mas hoje, parece que não temos esperança, a luz ao fundo do túnel parece ter-se apagado, não sabemos bem para onde queremos ir, e isso é assumido por todos. Estamos mal, o país está em crise, os cidadãos estão a empobrecer dia após dia, e infelizmente o que nos dizem é que não temos alternativa.
E isto é que torna o actual contexto social verdadeiramente dramático.
No estado novo, sabíamos que estávamos mal.
mas por outro lado também sabíamos que havia alternativa, e o povo estava disposto a assumir sacrifícios para ir atrás desta nova realidade.
Hoje, estamos assim, resignados, tristes, desolados, sem esperança, esperando que por um passo de mágica as coisas comecem a melhorar e possamos sair então desta maldita crise que deriva desta não menos maldita e catastrófica guerra financeira mundial.
Vamos festejar Abril, e inspirar a nossa vida nos militares que em 1974 não se resignaram, acreditaram que era possível construir um país mais justo, mais igual, mais solidário, mais fraterno, um país democrático.
Hoje, as necessidades são diferentes, mas é preciso saber que a crise, a recessão, a pobreza e o desânimo, não são de todo uma inimitabilidade.
há sempre uma alternativa melhor.
Busquemo-la com toda a convicção.
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