Se não fossem as poupanças, Cavaco estava falido.
O presidente da república de Portugal revelou hoje algo extremamente caricato, preocupante e ridículo. Estou também com curiosidade para ver as reacções que previsivelmente se irão fazer ecoar nos próximos dias por causa desta declaração.
Mas vamos por partes.
Cavaco Silva referiu hoje que este ano ainda não sabe quanto irá receber. Tudo somado, quase de certeza que não vai chegar para pagar as suas despesas, pois ele também não recebe vencimento como presidente da República, embora segundo o próprio, não faça questão quanto a isso.
Por curiosidade, refira-se que Cavaco já sabe que vai receber 1300 euros por mês da caixa geral de aposentações, e A esse valor, acrescerá uma remuneração do fundo de pensões do Banco de Portugal, para o qual descontou durante quase 30 anos.
Estas declarações foram proferidas hoje mesmo, após a visita ao Gabinete do Munícipe do Porto e a inauguração das instalações de três faculdades da Universidade do Porto.
Sabemos então, que para a família de Cavaco, este ano o dinheiro não vai chegar. Como é que ele vai resolver o problema?
O próprio diz-nos que as despesas mensais serão pagas com recurso às suas poupanças. "Felizmente, durante os meus 48 anos de casado, eu e a minha mulher fomos sempre muito poupados. Todos os meses, fizemos questão de colocar alguma coisa de lado. Portanto, posso gastar, agora, parte das minhas poupanças".
Apesar de este episódio ser muito recente, já começaram a borbulhar algumas reacções de indignação e perplexidade, porque segundo as mesmas, Cavaco não devia falar nestes termos, tendo em conta que há milhões de portugueses que vão ter muito menos dinheiro disponível do que o Presidente da república, e como é natural terão de viver à mesma!
É verdade que algumas reacções que poderão surgir, nomeadamente as vindas de determinado espectro político, poderão trazer alguma demagogia há mistura.
Também percebo esta mensagem das poupanças,e que isso pode servir como insentivo para que os portugueses possam ser comedidos nos gastos, porque as coisas não estão fáceis.
Mas o que é certo é que se Cavaco for atacado, mesmo sendo com essa tal demagogia, acaba por ser bem feito, porque ele literalmente pôs-se a jeito.
Num tempo de crise aguda, em que milhares de famílias estão pertíssimo da mais pura miséria, sem emprego, sem perspectivas de futuro, não é sensato que o mais alto magistrado da nação venha para a opinião pública dizer que não vai ter dinheiro para pagar as suas despesas.
Obviamente que aqueles que não têm os rendimentos iguais ao Presidente da república dizem e com toda a razão. Mas se o senhor Presidente não consegue, como é que eu vou conseguir? E outra coisa muito pior. Toda a gente sabe que neste momento está em discussão o facto de o banco de Portugal pagar ou não o subsídio de natal e o subsídio de férias aos seus funcionários, e também aos reformados do Banco, como é o caso de Cavaco Silva.
E a opinião pública poderá começar a conjecturar e com razão. Mas porque é que o Presidente fala disto nesta altura? Será que é para preparar e amenizar o possível impacto de afinal ele ter direito aos décimo terceiro e décimo quarto meses, e os restantes funcionários públicos não terem?
Será que, mesmo que o banco de Portugal decida pagar esses meses, Cavaco Silva vai guardar o dinheiro sem pestanejar? Será que vai ter descaramento para isso? Sinceramente, depois desta declaração já espero tudo!
Eu bem sei que o Banco de Portugal não depende do governo. Essa instituição depende do banco central europeu, e é perfeitamente legal que eles paguem o subsídio de férias e de natal. Tudo isto está certo, aqui não há ilegalidades, temos de o dizer a bem da verdade.
Mas meus caros. Nós não estamos a falar de coisas abstractas! Estamos a falar de milhões de funcionários públicos que este ano vão ficar sem os subsídios, que a meia dúzia de privilegiados que depende do banco de Portugal pode usufruir. E é isso que revolta as pessoas. Porque eu por mim falo, até aceito fazer sacrifícios. Bem sei que temos de arregaçar as mangas para que o país possa entrar nos eixos. Mas quando vemos que depois o espírito de solidariedade afinal não existe, e que estamos numa do salve-se quem poder, que os próprios senhores do Banco de Portugal deveriam ter a dignidade de nem sequer equacionarem pagar os subsídios às pessoas, que moral temos nós para apregoar este espírito altruísta, de coesão nacional?
Sejamos sérios. O povo precisa de sinais claros do poder político e dos responsáveis. É preciso que estes sejam sérios, que não insultem as pessoas, mesmo que tenham a cobertura da lei para o fazer.
Cavaco Silva insultou os milhões de portugueses que se vêem e desejam para levarem o barco a bom porto. Mesmo estando dentro da lei, cavaco deveria ter tento na língua, deveria perceber o que eram as verdadeiras dificuldades de quem luta todos os dias para comer e pouco mais.
E digo isto com a maior sinceridade. Estas pequenas coisas é que revoltam as pessoas. Porque é humanamente compreensível e legítimo que aquele que trabalha expluda de cólera e de raiva quando vê responsáveis políticos que ganham entre 5 a 10 mil euros por mês, e que têm a distinta lata de dizer que esse dinheiro não vai chegar para pagar as despesas.
Eu bem sei que se fosse o Cristiano Ronaldo que viesse agora dizer que não conseguia viver com 10 mil euros, não tinha o mesmo peso político do que Cavaco Silva. Mas tenhamos bom senso, e sobre tudo, sejamos comedidos quando falamos de dinheiro e de dificuldades, porque o país não está para festas, e por vezes estas palavras mal ditas é que vão despoletar todo um conjunto de revoltas sociais. Há sempre uma gota de água que transborda o copo, e estas pequenas parvoíces e tontearias dos responsáveis políticos podem muito bem significar a tal gota que falta.
A nossa sorte é vivermos num país de gente pacífica e ordeira, caso contrário não sei a onde é que isto ia parar.
É que quando vemos pessoas como o senhor Eduardo Catroga, que independentemente da sua capacidade, do seu talento, nada disto está em causa, mas ajuda a negociar com a troika, e diz que vamos ter tempos muito difíceis, que vamos todos ter de empobrecer agora para enriquecer depois, que vamos ter de apertar o sinto etc. E mal tem oportunidade havia-se numa EDP com 45 000 euros por mês, é caso para dizer. Puta que pariu estes tipos! Que moral têm esses senhores para virem falar em dificuldades, se mal podem aviam-se logo com ordenados chorudos, e pior ainda, ainda querem acumular com a reforma de 10 000 euros que já recebem?
O que é isto? Tenham vergonha. Sinceramente.
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