Manuela Ferreira Leite quer Matar os doentes crónicos. Será que é a única?
Manuela Ferreira Leite, é dona de um conjunto de afirmações, que vão ficar no anedotário da política portuguesa. A nossa sorte, é que esta senhora que já foi Ministra da educação, ministra das finanças, candidata a primeira-ministra, já não consegue revoltar ninguém com as suas declarações, e até faz com que alguns ridicularizem inclusive a família política de que Manuela Ferreira Leite faz parte, e outros, talvez mais sensatos, riem-se para o lado, ignorando e fazendo escárnio do que ela diz.
Eu sei que a senhora tem um problema sério de expressão, e que depois de cada afirmação ridícula e bombástica, sente sempre a necessidade de se vir explicar, tentando remendar aquilo que afirmara.
Foi assim quando defendeu a suspensão da democracia por seis meses, onde aí eu reconheço que a sua intenção genuína era brincar com a situação, mas a forma como expressou a mensagem foi desastrosa, sobre tudo porque uma pessoa como ela já mais consegue ser irónica, também naquela frase célebre que a família servia para procriar, e agora com esta ideia segundo a qual as pessoas com mais de setenta anos que precisem de fazer hemodiálise têm de pagar.
E sobre esta última ideia, quero deixar uma reflexão à cerca do princípio da mesma, já extraindo o ridículo da questão/afirmação.
Vamos por partes. Manuela ferreira leite defendeu que todos aqueles que precisem de fazer hemodiálise, e que tenham mais de setenta anos devem pagar o serviço. Ou seja, segundo essa ideia original, sem emendas digamos assim, aqueles que chegam aos setenta anos, que sejam pobres, e que ainda por cima tenham o azar de terem insuficiência renal, devem pura e simplesmente morrer! Ouviram bem? Morrer! É que não existem duas interpretações possíveis! Se o doente não fizer hemodiálise morre. Logo, se não tem dinheiro para pagar esse serviço, a única alternativa é começar a contratar os serviços da agência funerária, porque infelizmente não terá muito mais tempo de vida.
E é isso que Ferreira Leite defendeu originalmente. Só depois, é que se justificou tentando dar um ar mais refinado à ideia, dizendo que aquilo que ela queria mesmo dizer não era bem isso, mas sim que só devia pagar quem tivesse dinheiro obviamente! Os mais pobres, nem pensar.
Mas a questão que devemos colocar é a seguinte: É justo que alguém que precise de um tratamento que é fundamental para a sua vida tenha de pagar, mesmo que ganhe mais do que o salário mínimo?
Vejamos uma hipótese concreta. Todos sabemos que a hemodiálise custa imenso dinheiro. É Justo que uma pessoa que ganhe mil euros por mês, tenha de dispensar quase metade para o tratamento de uma doença? A onde está o sentido humanitário, de solidariedade, de igualdade, de fraternidade do nosso poder político?
Uma pessoa que não tem doença crónica pode usufruir do seu vencimento à vontade, uma pessoa que é doente precisa de se privar quase que do básico para sustentar a cura.
Isso faz algum sentido? E o problema é que aos poucos, vamos atirar os doentes crónicos para uma desigualdade inadmissível e revoltante.
Eu penso que já mais podemos admitir que os doentes crónicos, independentemente da sua condição, tenham de se ver privados de uma parte significativa do seu vencimento para tratarem da sua doença. Já não chega a pessoa estar doente? ainda tem de ser prejudicada em relação ao seu colega que é saudável?
Creio por isso que esta luta dos doentes crónicos é justa, humana, e merece que todos nós, nos mobilizemos e saiamos a denunciar esta barbárie, esta desumanidade, esta injustiça. E o mais dramático, é que com pezinhos de lã, o nosso poder político lá vai aos poucos retirando esse direito que deve ser considerado sagrado.
É preciso dizer alto e bom som, que não há nenhum ser humano que seja doente crónico por opção, e que todos eles tem todo o direito de aceder gratuitamente às ferramentas que lhe permitem viver, porque é disto que se trata.
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