Cortes no Metro de Lisboa. Vários Países Dentro de Portugal.
A prova mais evidente que este país anda a várias velocidades é a reacção generalizada à proposta de um grupo de trabalho em suprimir a circulação do Metro de Lisboa a partir das 23 horas.
É curioso que os argumentos que mais se ouviram foi os de que as pessoas tinham necessidade de se deslocar durante a noite, valorizando-se muito o motivo laboral.
A dona Maria que coitada tem de trabalhar até às duas da manhã vai deixar de ter transporte público para regressar a casa! Dizia alguém, como forma de criticar a proposta deste grupo de trabalho.
Esta medida é completamente absurda e é um roubo às populações, foi outra das frases utilizadas.
Não nos esqueçamos de uma questão importante. Estamos a falar de Lisboa, onde o metro circula 24 horas por dia, caso único no país. E é normal, que muitos destes que utilizaram uma linguagem contundente não conheçam a realidade do resto do país, e que pensem que a essência do desenvolvimento está em Lisboa, e que o resto não conta para estas contas.
Mas quem vive fora de Lisboa e dos arredores, sabe que as coisas não são bem assim. Infelizmente temos grandes cidades do país onde a partir das 23 horas pura e simplesmente não têm transportes públicos. Se deixarmos as cidades e falarmos de meios mais rurais, então aí os últimos transportes raramente ultrapassam as 20 horas.
E nestas cidades e vilas fora de Lisboa também se trabalha. Sabem disso?
E nestas cidades e vilas a dona Maria também tem de sair do trabalho às duas da manhã, e nunca teve transporte público à sua disposição para regressar a casa. Sabiam disso?
Exactamente na altura em que vinha a lume esta proposta para o metro de Lisboa, a CP anunciava o encerramento de 600 quilómetros de caminhos de ferro, que correspondem a uma série de linhas do interior.
Por exemplo, na linha do vouga, onde temos populações que praticamente não têm nenhuma alternativa, e mesmo assim, o discurso dos responsáveis da CP é muito animador. As linhas que não dão lucro são para encerrar!
Sinceramente, acho melhor que nessas terras onde as pessoas têm um autocarro de manhã para saírem, e um à noite para regressarem, comecem a fazer peregrinações no comboio, pode ser que a CP comece a ter lucro nessas linhas, e as pessoas já não ficam prejudicadas!
Como é óbvio não estou a favor do corte das ligações no metro de Lisboa, como muito menos estou a favor do corte de transportes no interior, quando aí as pessoas vivem longe de tudo e precisam mesmo de transporte para irem à vila comprar o que lhes faz falta.
Mas revolta-me ver a opinião pública muito indignada com esta proposta do metro de Lisboa, e não se indignar com o corte brutal que cidades e vilas, que inclusive algumas até estão no litoral, mas sobre tudo as do interior têm sofrido no que respeita aos transportes públicos.
Sinceramente isso revolta-me grandemente, porque parece que Lisboa é onde está a razão de ser deste país, que coitados, até não podem ver o seu metro afectado no número de ligações, enquanto o resto do país pode continuar a sofrer e de que maneira a escassez de transportes. Não pode ser! O país de fora de Lisboa também merece que a opinião pública se indigne, e ajude a fazer com que os operadores de transporte público deixem de ter como critério apenas a vertente economicista, deixando populações inteiras praticamente isoladas do resto do mundo.
Se os operadores não têm recursos para garantir o serviço público em ligações que manifestamente não têm adesão regular, e que em consequência dão imenso prejuízo, cabe ao estado ajudar a democratizar o acesso aos transportes, e quem vive no interior tem todo o direito a ter as mesmas condições de acessibilidade, ainda por cima quando por vezes até as próprias vias de transporte, vulgo estradas, até são muito piores do que nas cidades do litoral.
E creiam que isto não é demagogia. Basta vermos a diferença abismal que existe entre Lisboa e Porto. agora se compararmos com grandes cidades como: Aveiro, Braga, Coimbra, Castelo Branco, Viseu, Évora e muitas outras, então aí a diferença é mesmo enorme. E agora se compararmos estas cidades com o interior, então infelizmente chegamos à triste conclusão que estamos perante vários países.
É muito triste constatar este facto.
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