segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Reflexão sobre o comportamento dos alemães, e o paralelismo com o comportamento dos continentais em relação ao buraco da Madeira.

Ao que nos foi dado a conhecer na semana passada, os governos da Europa parecem ter conseguido um dos acordos mais importantes para a nossa história recente.
O perdão da dívida grega em 50 %, e a recapitalização da banca, representam neste momento um balão de oxigénio importante para os mercados, e todos estamos esperançados que as economias dos países da União europeia, com especial incidência no nosso caso obviamente para Portugal, possam ter um novo alento.
Para mim enquanto cidadão preocupa-me obviamente a desgraça e a recessão em que estamos mergulhados, mas tão ou mais preocupante no meu ponto de vista é a incerteza a que todos estamos votados.
Se houvessem garantias seguras e sustentáveis que os sacrifícios que todos estamos a fazer eram temporários e que dentro de algum tempo podíamos com segurança dizer que vamos colher os seus frutos, pelo menos sabíamos que a possibilidade dos sacrifícios virem a ser em vão era diminuta. E aí até se podia exigir mais um pouco de sacrifício, porque todos estamos conscientes dos problemas estruturais que o país atravessa, e da consequente necessidade em os resolver.
O grave em tudo isto é a incerteza que paira em toda a Europa, e o fantasma da desagregação que a qualquer momento pode fazer implodir o Euro, as economias dos países, e aí os mais vulneráveis como Portugal serão obviamente os primeiros a cair.
E se afinal este plano de austeridade não resultar? E se em 2014 estivermos na mesma ou pior?
São questões para as quais ninguém objectivamente tem resposta, mas mais do que pertinentes, elas representam um legítimo anseio das populações em perceberem se estes sacrifícios valerão ou não apena, ou se pelo contrário estamos perto de uma revolução em grande escala, e neste caso quanto mais cedo ela vier melhor, porque depois da tempestade vem a bonança!
No meu ponto de vista, este choque europeu era inevitável. Por uma razão muito simples. Mais importante do que toda a ciência política e económica que está por detrás de toda esta construção europeia, há uma verdade insofismável que é a Europa a três velocidades.
Depois, nós não temos um continente, mas sim 27 democracias, 27 pedacinhos da Europa que obviamente defendem cada um os seus interesses, e quando deste bolo temos uns que são manifestamente pobres, outros que ficam no meio termo, e outros que até são ricos, os conflitos são obviamente inevitáveis.
Os ricos dizem que a culpa da Europa estar mal é dos pobres, os pobres dizem que é dos ricos que não são solidários, e depois temos aqueles que ficam a meio termo, mas que no contexto actual até são cada vez menos os países que se podem dar ao luxo de assumir uma posição neutral, de não terem nada que ver com esta crise.
E por exemplo a Alemanha, mesmo que por ventura pretendesse ajudar mais os países em dificuldade, os seus líderes políticos não podem ignorar a vontade do povo alemão, e naturalmente, essa opinião pública é avessa a pagar os erros dos outros.
Aliás, se virmos bem, quando surgiu o buraco da Madeira, nós próprios continentais, começamos logo a dizer que se foram os madeirenses que fizeram o buraco, então eles que o tapem!
Tivemos portanto a mesmíssima reacção que têm os Alemães quando confrontados com os erros de Grécia e Portugal, e de o facto de eles Alemães serem convocados a pagar esses erros.
Não nos podemos esquecer que se por um lado na madeira se gastou o que não se tinha, e isso levou à ruína das contas públicas, o mesmo aconteceu no continente, onde durante anos e anos vivemos muito acima das nossas possibilidades. E já pensaram que da mesma forma que nós não queremos pagar os erros da Madeira, os alemães também podem não querer pagar os nossos?
Por isso, as coisas não são assim tão simples. E apesar de todos acharmos que hoje mais do que nunca a solidariedade entre ricos e pobres deve prevalecer para salvar o euro e a Europa, ao passar isto para a prática, existem entraves muito difíceis de transpor.

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