a linha de argumentação usada por José Sócrates
Em todos os debates em que José Sócrates participou, a nota dominante que ele usou, foi uma velada crítica à oposição, pelo facto de todos em uníssono terem contribuído para a demissão do governo.
Esta crítica, naturalmente é mais acentuada ao Psd e ao Pp, pelo facto de ambos terem reprovado o pec 4 e agora terem assinado este acordo com a troika, acordo esse que efectivamente contempla bastantes medidas desse famigerado Pec, que foi reprovado em Março.
Já no dia em que foi anunciado oficialmente o plano financeiro para Portugal proposto pela Troika, José Sócrates veio afirmar esta coisa verdadeiramente espantosa, segundo a qual ele tinha razão porque as exigências da troika eram idênticas às que ele tinha preconizado no Pec.
Como se pode dizer que José Sócrates tem razão, quando se em Março tivesse sido aprovado o Pec, não havia dinheiro emprestado, o mesmo é dizer, continuaríamos com a corda ao pescoço, a contrair empréstimos a 10 % de juro, enquanto agora, a taxa de juro ultrapassa pouco os 3 %, quase grátis, se compararmos com que os bancos privados nos estavam a levar, fruto da maldita especulação das agências de rating?
Perante isto deixo aqui duas perguntas.
A primeira. Sabendo que temos de fazer sacrifícios, o que é preferível? Fazer esses sacrifícios mediante uma ajuda de setenta e oito mil milhões de euros? Ou fazer sacrifícios e não ter nada em contrapartida, antes pelo contrário, como a economia não ia arrancar, como os juros previsivelmente não iam baixar, teríamos de recorrer mais cedo ou mais tarde a ajuda internacional, tendo antes disso de fazer o Pec 5, o pec 6 e por aí fora, porque Portugal não ia resolver os seus problemas?
Arrisco a deixar ainda uma terceira pergunta. é melhor pagar um empréstimo a 3 ponto qualquer coisa, ou a 10 %?
Mas será que as pessoas que ouvem Sócrates usar estes argumentos, não têm cabeça?
Apesar de o povo não estar esclarecido, e continuar a deixar-se embalar no canto da sereia, espero que por uma questão de inteligência, todos, e aqui sobre tudo o próprio José Sócrates, perceba que o ataque que ele faz à oposição, neste particular não tem qualquer sentido. Aliás, ele ao empolar esta crítica em todos os debates que vai, está sem querer a dar razão à oposição, e a legitimar a reprovação do Pec. Porque se a oposição não o tivesse reprovado, não teríamos ajuda para pelo menos resolver uma parte dos nossos problemas, e teríamos a continuação da ruptura das nossas contas públicas, contracção de dívida cada vez maior, até chegarmos à banca rota, que hoje se sabe, esteve eminente.
Da mesma forma que hoje também todos são unânimes em reconhecer que o pedido de ajuda já deveria ter sido feito à mais tempo, e que o fazer só agora, apesar de tudo ainda agravou mais a austeridade para os contribuintes.
Todos reconhecem isso. Os negociadores da troika, o próprio ministro das finanças, só José Sócrates não veio pelo menos publicamente reconhecer que foi demasiado teimoso, e que prejudicou grandemente o nosso país e a saúde das nossas contas públicas, e pior do que isso, só mesmo quando os banqueiros o encostaram à parede e até o próprio ministro se antecipou, é que o então primeiro-ministro teve um lampejo de humildade e razoabilidade, fazendo aquilo que já deveria ter feito à muito tempo, tal era a taxa de juro que estávamos a pagar.
Espero que Sócrates largue esse discurso, porque isso só põem a nu o seu erro histórico, a sua casmurrice, e a sua falta de sensatez. A não ser que todos subscrevam de cruz aquilo que ele diz e escreve, nesse caso, continuamos a ter alguém que não falha, é perfeito, e até consegue encenar de quando em vez qualquer coisa de espectacular, apoteótico e arrebatador.
Por falar em encenação, um dos argumentos mais hilariantes que eu ouvi em defesa de José Sócrates, ocorreu numa discussão que estava a haver, sobre aquele famoso discurso de Terça Feira, no intervalo do Real Madrid Barcelona, em que ele anunciou as medidas que não iam constar no acordo com a Troika, que ia ser apresentado no dia seguinte.
Não posso deixar de dizer, que considerei esta comunicação um atentado à minha inteligência, uma jogada de marketing político, mas de um Marketing agressivo, comerciante, que eu definitivamente não quero comprar.
Nessa base, o argumento usado, é que efectivamente essa comunicação foi absolutamente ridícula e pateta, mas que foi uma jogada de marketing político fantástica.
Que grande argumento! Significa isto que Dora avante não interessa o conteúdo, a postura, a seriedade, a responsabilidade, a coerência, a credibilidade etc. O que interessa é o marketing! Que a política tenha virado negócio, não é novidade, agora que os políticos tenham de fazer coisas ridículas para alimentar o marketing político não deixa de ser uma nuance curiosa, mas muito triste, que deverá corar de vergonha todos aqueles que têm um pingo de decência, e que analisam a acção dos políticos não pelas jogadas de marketing, mas sim pelo trabalho que eles realizam.
O próprio José Sócrates mesmo sem se aperceber ou até sem querer está a ser muito insultado, porque dizer-se que o que ele fez é ridículo, mas que até resulta porque é uma boa jogada de marketing, é o mesmo que dizer que ele não é competente, mas que até tem lábia suficiente para ludibriar as pessoas, o que manifestamente até para ele é altamente difamatório da sua honra, embora ele não o diga, nem sei sequer se ele se apercebe disso ou não.
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