segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A vergonha do 1 de Nuvembro. O acampar nas campas.

Apesar de só amanhã dia dois de Novembro ser o dia dedicado aos fiéis de funtos, milhões de pessoas aproveitam ano após ano este feriado de um de Novembro para rumar aos cemitérios onde estão sepultados os seus ente-queridos.
Neste dia deixem-me dizer-vos com toda a frontalidade mas com muito afecto, que muitos estão imbuídos de sentimentos de muita vaidade e hipocrisia.
Gastam-se dezenas e dezenas de euros em arranjos florais para as campas, só para não parecer mal aos olhos do vizinho que também gasta o mesmo ou até mais dinheiro, só para mostrar que tem melhor gosto ou mais posses.
Mas é preciso dizer que isto não tem nada haver com Jesus, o carpinteiro, o filho de Maria.
Estas manifestações são em tudo idênticas às que se verificavam no paganismo na idade média. Infelizmente ainda é aqui que estamos. Os fieis ignoram que quando estão na campa dos seus entes-queridos, não estão a celebrar coisa nenhuma. O corpo que ali está não é mais do que um conjunto de matéria orgânica, morta, sem vida, biologicamente em decomposição, pronta para voltar novamente ao pó. Do pó vieste e ao pó voltarás, é algo que pese embora duro e cruel, temos de aceitar, e aproveitar para viver e celebrar os nossos amigos de forma a que a sua memória nunca mais desapareça, como aliás aconteceu com a ressurreição de Jesus, que apesar de ter sido assassinado na cruz, está hoje mais do que nunca no nosso pensamento, e fez com que as suas práticas, subversivas por sinal, se espalhassem pelo vento, como se fosse uma brisa, que dura até aos tias de hoje, e irá durar por muitas mais gerações, assim espero.
Saibam que todos nós podemos ter uma vida eterna como Jesus. Basta que para isso a nossa memória se perpetue no tempo, e não é preciso rumar um dia por ano aos cemitérios, porque para celebrar a memória de alguém podemos e devemos fazê-lo em qualquer lugar.
Esta celebração é confrangedora a todos os níveis.
Primeiro, as pessoas parece que só neste dia é que devem chorar os seus mortos. A ideia é que eles não sejam chorados, mas sim celebrados e lembrados. Já sei que isto é muito mais exigente, e contrário a tudo aquilo que vos têm ensinado geração após geração. Mas saibam que se continuarem a adoptar estas manifestações estão muito longe do Jesus histórico, este que interessa às populações, que nunca foi a nenhum funeral, nunca participou em dias de todos os santos, nem em dias de fiéis de funtos, e que teve a ousadia de afirmar que devemos cuidar dos vivos, e deixar os mortos cuidarem de si.
Já viram que ensinamento tão profundo, e tão contrário àquilo que fazem hoje milhões de irmãos meus?
Não vale a pena estarem uma tarde inteira a correr de campa em campa, a criticar quem não vai ao cemitério.
Tudo o que lá se faz naquela tarde é vazio, não tem qualquer sequência na vida das pessoas, é só vaidade, muitos vão porque parece mal não ir. Convenhamos que para quem gosta desta teologia jesuânica, uma teologia libertadora, que é contra tudo o que oprima e castre as populações, isto é muito pouco.
Não posso conceber que um pouco por todo país, as pessoas acampem ao pé das campas com medo de serem criticadas pelos vizinhos. Se a única motivação que as leva a adoptarem estas práticas é essa, lamento dizer mas fico triste por elas, porque estão a incorrer num pecado mortal. É verdade! Não é preciso escandalizarmo-nos. Quem diz isto é São Paulo, que afirma que tudo o que se faz sem fé é pecado.
O que mais me entristece porém, é que esses meus irmãos sabem conscientemente que estão a fazer algo que sob o ponto de vista teológico e racional não tem lógica, mas não dão aquele passo decisivo, aquele que os podia fazer mais livres, mais autónomos, mais responsáveis pelos seus actos, e para isso só precisavam de fazer uma coisa muito simples, deixarem-se deste tipo de ritos, no fundo seguir aquilo que à muito a sua consciência viu que não está, nem pode estar certo.
Como eu me alegrava se isso acontecesse. Tornava as pessoas insubmissas à tradição que como já disse é vazia de teologia. Fazia das pessoas seres pensantes e cientes dos seus próprios actos.
Não consigo imaginar o dinheiro que se gasta em arranjos de flores para que muita gente ostente a sua vaidade e exiba todo este luxo nas campas dos seus familiares e amigos. O que sei é que esses tais irmãos que já tiveram a sua Páscoa definitiva, deverão chorar com tanta falta de sapiência, e tanta demência generalizada que assola muitos irmãos meus geração após geração.
Não chegará o tempo em que nos livremos disto?

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