Alguns aspectos positivos da crise
Num tempo tão difícil, provavelmente o mais complicado desde o 25 de Abril, parece paradoxal falar em aspectos positivos, nesta que é uma crise profunda mundial, ou como alguns muito justamente chamam de guerra financeira mundial.
Mas se virmos bem, esta crise foi benéfica sobre tudo para alguns dos comportamentos das pessoas.
No supermercado já ninguém compra por comprar. As pessoas já elaboram listas, compram apenas o que contempla a referida lista, o que os obriga a serem muito mais rigorosos e cuidadosos nas compras que realizam.
E este rigor não tem de ser mau. Creio que esta forma de agir, tanto é válida para uma altura de crise como esta, como para uma outra situação de maior desafogo orçamental.
Se antes da crise, os portugueses já tivessem enraizada uma mentalidade de rigor e de disciplina no consumo, de certeza que esta crise não iria afectar tanto o dia a dia das pessoas.
Por duas ordens de razões.
A primeira é que muitas famílias gastaram muito mais do que era necessário, comprando indiscriminadamente, altamente influenciadas pela publicidade implacável, que levou a que fosse criada a sociedade de consumo, levando-as a viver muito para além das suas possibilidades. É aquilo que se pode dizer, “fazer vida de rico, com carteira de pobre”!
A segunda, é que se estes hábitos comedidos no consumo já viessem de traz, já não era preciso que os consumidores fossem reeducados nas suas práticas de consumo.
Hoje, todos podemos verificar um grande resfriar nas compras, os consumidores não compram tudo o que vêm, contrariando uma velha prática de vários anos em que as populações comiam com os olhos, e enchiam carrinhos de compras com artigos que muitos nem sequer lhes iriam fazer falta.
Este racionamento que agora os consumidores foram obrigados a fazer, só veio ajudar a que futuramente eles possam ser muito mais responsáveis, ganhando toda a gente com isso.
Desde logo, ganha a tal sociedade de consumo, que assim passa a viver com mais estabilidade, sem estar tão sujeita às oscilações do poder de compra dos portugueses, passando a ser uma sociedade muito menos cruel. E ganham obviamente os consumidores, que ao aprenderem a gastar aquilo que possuem, vivem melhor, com menos problemas no orçamento familiar, menos sujeitos a irem ao fundo, em suma, são pessoas que podem passar a viver de uma forma muito mais tranquila.
E por este aspecto, deixem-me dizer que valeu a pena a crise. Valeu a pena estarmos mais despertos e conscientes, porque assim podemos combater com mais força e vigor esta selvajaria imposta pela tal sociedade de consumo, que se não for degolada, vai levar-nos para o abismo.
Porque com esta mentalidade consumista, se uma família ostenta determinados bens materiais, os vizinhos vão fazer tudo para chegarem também ao nível daquela família.
Se de uma vez por todas interiorizarmos que a principal prioridade é consumir de acordo com as nossas necessidades, e sobre tudo de acordo com os rendimentos que obtemos no final de cada mês, estamos a a adoptar uma postura madura perante este actual estado de coisas. Não adianta andarmos a competir desenfreadamente, para anos depois estarmos com a corda na garganta, endividados até ao pescoço, com os nossos bens penhorados, e passarmos pela vergonha de sermos chamados de incumpridores.
Verifico com muita satisfação que já estão a circular petições, para que as autarquias deixem de gastar pequenas fortunas nas iluminações natalícias. Fico feliz pelo facto de muita gente já ponderar muito bem se vai oferecer prendas de natal a toda a gente, despendendo de verbas avultadíssimas que lhes vão fazer falta. Fico contente por tudo isso, e fico ainda mais satisfeito se toda a gente aproveitar esta época para pensar e agir pela sua cabeça e não andar ao sabor da publicidade, que faz dos consumidores bonecos, muitas vezes palhaços, e pior do que isso, levam-nos à ruína, económica, e consequentemente à desgraça.
Vamos ser mais responsáveis e inteligentes. Muito mais!
Verão que com estas práticas ante consumistas, vamos viver mais centrados no essencial. Se não posso adquirir o telemóvel topo de gama, paciência! Vivo muito bem na mesma. Vou à praia, estou com os meus amigos, converso com eles, organizados tertúlias, e actividades ao ar livre, e para isso não preciso do telemóvel topo de gama para nada.
E garanto que sou muito mais feliz em ir à praia, em estar com os meus amigos do que estar a manipular um equipamento topo de gama, ou andar num centro comercial a cobiçar tudo aquilo que vejo, e a escolher a onde vou gastar o dinheiro que depois me vai fazer falta para outras coisas muito mais importantes.
Vivam a vida, e deixemos a sociedade de consumo a falarem sozinhos, e vão ver que até eles vão aprender que não vale tudo para enriquecer à custa da ingenuidade dos consumidores menos ilustrados.
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