terça-feira, 5 de outubro de 2010

A pseudo importância do TGV

Tenho de dizer que sou um indefectível amante da alta velocidade.
Já os romanos defendiam que só se podia evoluir com a construção de boas vias de comunicação.
A verdade é que ainda hoje esta filosofia está perfeitamente adequada, e estará, até que todos os cidadãos se possam movimentar fisicamente num curto espaço de tempo.
Sonho com o dia em que estaremos na Austrália em 1 minuto. É utópico, eu sei, mas os romanos já mais pensavam que no ano 2000 a distância entre a Europa e a Austrália era de 27 horas de avião.
Temos mesmo de sonhar. Num planeta tão pequeno não podemos estar tão longe uns dos outros.
Apesar desta minha paixão, tenho de dizer que não estou nada de acordo com a implantação do TGV.
Bem sei que esta discussão vem fora de tempo. Hoje para suspender esta obra faraónica é preciso indemnizar os construtores civis. Bem ou mal, as leis que temos são estas, e acho justo que depois do acordo ter sido assinado, e da obra ter sido concessionada, é correcto que as empresas de construção sejam ressarcidas, caso o estado não cumprisse com a sua palavra.
Por isso, os defensores do TGV têm agora um argumento imbatível para continuar com esta obra.
A questão, é que se por um lado se anda a aumentar a carga fiscal, a pedir aos portugueses que façam sacrifícios, a asfixiar as empresas, não devíamos depois alimentar um TGV que segundo dizem vai custar 3,3 mil milhões de Euros, uma exorbitância!
É verdade que eu concordo em parte com o argumento do nosso Primeiro-Ministro em defender a importância do investimento público. É do senso comum, que para a economia avançar é preciso que ela seja alimentada, e a vertente da construção civil é regra geral um dos motores de qualquer economia. Mas eu defendo que ao invés de se investir numa infra-estrutura, que não vai beneficiar muita gente, seria preferível investir em obras que beneficiem as pessoas. Hospitais, estradas, etc.
E quando eu digo que poucos irão utilizar o TGV baseio-me no facto de uma viagem de low cost de avião entre Lisboa e Madrid poder custar 50 euros ida e volta, e no TGV, estamos a falar de ingressos a 100 euros.
Sei que muita gente não gosta de viajar de avião e que prefere o comboio, sem dúvida um transporte mais seguro. Mas se virmos bem estamos a falar de uma diferença de 400 % entre o TGV e o avião. Porque a ida e volta no TGV passaria a custar 200 euros, e no avião 50 euros está incluído o bilhete de ida e volta.
Também reconheço que muita gente não tem tempo nem à vontade para andar constantemente atrás das companhias de low cost, e que nem sempre elas oferecem viagens baratas quando a pessoa precisa. Mas como se não bastasse, também se fala que a política do TGV vai ser idêntica à das companhias de low cost. Ou seja, os 100 euros que se anunciaram trata-se apenas de um preço de referência, porque segundo afirmam os responsáveis, podemos ter viagens a 10 euros e a 200 euros, depende dos dias da semana, e da antecedência da marcação da viagem.
Ou seja, aquilo que poderia ser um chamado simplex, isto é. A pessoa tinha a vantagem de chegar ali, apanhar o comboio e ir para Madrid, ao que parece não vai ser bem assim, porque arrisca-se a pagar um balúrdio, quando se estiver atento ao mercado pode conseguir descontos mais significativos. No fundo, uma perfeita confusão! Ainda menos vai beneficiar, porque se o TGV vai ter política idêntica às companhias de low cost, só mesmo quem tiver aversão ao Avião é que poderá optar pelo comboio, porque no avião, em uma hora a pessoa chega de Lisboa a Madrid.
e mais importante. É inadmissível que se esteja a pensar numa ligação de TGV entre Lisboa e Madrid, e por exemplo a linha entre Caíde e o Pocinho não esteja electrificada, o que obriga as pessoas a viajarem em comboios do terceiro mundo.
E quantas mais linhas que também não permitem a circulação dos comboios eléctricos?
Como se pode admitir que no alfa entre Braga e Lisboa existam momentos do percurso em que a composição viaja a 10 quilómetros por hora? Não seria melhor corrigir essa situação, para que o alfa possa atingir a velocidade máxima ao longo de todo o percurso? E se isso acontecesse quanto tempo se ganharia em relação ao que demora actualmente a viagem?
O que me irrita solenemente é isto. Estamos a pensar em altas velocidades, e nem sequer temos capacidade para resolver os problemas que temos actualmente dentro de casa, que podiam ajudar muito as pessoas, e como se não bastasse, estamos à espera que elas vão pagar um valor altíssimo, só para andar de TGV. Quem vai suportar a previsível falta de receita?
Primeiro, vamos dotar todo o país de boas vias férreas, privilegiar o comboio que na verdade é o meio de transporte mais seguro, barato e ecológico, e depois sim, quando tivemos um país em que o comboio tenha as condições dignas para servir os clientes, podemos então pensar na alta velocidade. Agora, construir um TGV e andar aqui no interior em comboios do século Passado é de todo ridículo e revoltante.
E é contra isso que eu me insurjo, e penso que todos nos devíamos questionar.
O País não é só Lisboa! O resto da população também têm direito a um comboio: confortável, moderno, rápido e eficiente. Desculpem lá mas Portugal é muito maior que Lisboa, e esta gente do interior não precisa nada do TGV, só precisa é de um suburbanosinho que funcione direito e que nos traga o mínimo de conforto e rapidez.
E os que viajam no Alfa também agradeciam que a linha estivesse toda em condições entre braga e Faro. Dava cá um jeitaço!

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