A crise francesa e o paralelismo com a situação portuguesa
Aquilo que temos assistido em França deve dar que pensar, a nós portugueses.
O que os grevistas franceses reclamam, prende-se com o facto de o governo ter aumentado a idade da reforma para 62 anos.
Curiosamente em Portugal, uma pessoa só fica reformada aos 65, e pelo que dizem as más línguas, a idade tem tendência a aumentar.
Se os franceses fazem uma greve geral que paralisa o país, e que já vai na sexta paralisação, só porque apenas vão para a reforma aos 62 anos, imagino se as regras deles fossem iguais às nossas. Provavelmente teríamos aí uma nova guerra civil!
Mas não são só estas disparidades que nos devem fazer pensar. Eles conseguem mobilizar-se para uma greve, esta sim uma greve que é capaz de cumprir o seu objectivo, porque conseguiu paralisar por completo o país, trazendo prejuízos de todo incalculáveis.
Aqui no nosso país, assistimos a um ataque brutal do governo à classe média, que como todos sabem é quem faz andar o país, e o máximo que se consegue é um acordo entre as duas centrais sindicais para uma grevesinha de um dia.
Eu não sou apologista das greves, a não ser que estejamos numa situação excepcional. Creio que é o caso. Mas vamos lá ver. Uma paralisação de um dia adianta alguma coisa?
Será que isso vai fazer cócegas a quem criou este orçamento que legitimou o ataque mais violento da nossa história mais recente?
Eu penso que para fazer uma paralisação a sério, era preciso ter coragem, e agitar as consciências. Se calhar não era um dia, mas uma semana, ou até duas semanas. De que vale o poder financeiro, o banco central europeu, o FMI, sem as pessoas?
E voltando ao paralelismo com a situação francesa, convenhamos que a nossa razão de queixa vai muito para além da idade da reforma.
Com esta proposta de orçamento vamos ficar com menos poder de compra, os impostos vão aumentar significativamente através do Iva, produtos essenciais à vida dos portugueses vão ter aumentos significativos de 5 ou 6 % para os 23 %, tudo vai ficar mais caro, e para cúmulo vamos ganhar menos, porque vamos pagar mais IRS.
Por outro lado, assistimos diariamente a autênticos devaneios do estado, como por exemplo os salários obscenos em tempo de crise que auferem alguns administradores públicos, aquilo que muito diplomaticamente se chamam os marajás!
Se fosse só a idade de reforma, muito bem estaríamos. É verdade que a esperança média de vida hoje felizmente é maior, nascem cada vez menos crianças , tudo razões para que se aceite de uma forma relativamente pacífica o aumento da idade da reforma.
Mas se nós hoje vivemos mais, se trabalhamos mais e se ainda por cima ganhamos menos, e temos uma qualidade de vida bem pior, aí de nada serve o aumento médio da esperança de vida, e não à nenhuma razão lógica para que a riqueza continue a estar assim tão mal distribuída.
Porque há uma coisa que temos de ter em conta. A riqueza existe, o dinheiro também há, o grave da questão, e isso é que muita gente não quis reflectir e ainda nem acordou a sério para o problema, é que ele está cada vez em menos mãos, e isto é a pior guerra que tivemos desde a segunda guerra mundial. Estamos perante uma guerra financeira sem precedentes na história. Esta é a pior delas. Não à armas, as cidades não são destruídas, mas quem a alimenta fica com o tesouro ainda mais gordo, porque depois não vai ter de ajudar a reconstruir rigorosamente nada.
Não sei quando vai terminar esta guerra. Sei é que o dinheiro agora está em cada vez menos gente. Os países que pensam que ainda são soberanos nas suas decisões estão redondamente enganados. Portugal à muito deixou de ter autonomia! Dependemos do banco central europeu, do capital estrangeiro que já financia grande parte dos bancos portugueses, e já nem os próprios banqueiros nacionais conseguem ter liberdade relativamente ao resto da Europa.
Quando os comunistas afirmam que o país está nas mãos da banca, era bom que assim fosse. Quando comparado com o que sucede actualmente, onde o poder financeiro está fora do nosso país, e apenas nos temos de sujeitar a fazer aquilo que os estrangeiros querem que façamos, até não era mau de todo que fossem os portugueses, mesmo sendo banqueiros a condicionarem a política económica do governo.
Já viram como estão as coisas? E andamos todos a discutir se o Passos Coelho aprova o orçamento, se o Sócrates se vai demitir etc. Sejamos pragmáticos! Acordemos de uma vez por todas. Deixemos de estar embalados pelo canto da Sereia. Hoje mais do que nunca precisamos de um choque para finalmente tentarmos arrepiar caminho, apesar de não ser nada fácil. Foram muitos anos de letargia, de um sono profundo, de politiquices entre ps e PSD onde as pessoas se esqueceram e ignoraram que o país estava a perder poder de decisão. Agora queixam-se. É tarde! Lamentavelmente podemos bem ter chegado a um posso sem fundo. Mas acordemos, a ver se ainda à esperança.
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