A casa da mentira e da intriga
Sempre gostei de desenvolver o meu sentido crítico, com base na observação que eu faço das coisas, e por causa disso, acompanhei durante toda a noite passada o programa da TVI, a casa dos segredos.
Já tinha ouvido falar imenso deste reality show, pensei seriamente em não ver nunca o referido programa, mas no meio de tantas críticas e também naturalmente alguns elogios, não resisti em ver uma das emissões.
Fiquei absolutamente convencido. Este programa é o que de pior à na sociedade portuguesa.
Um sucesso deste nível, assente na mentira, da intriga, do segredo, da confusão, da criação de desordem e instabilidade psicológica dos concorrentes, é o espelho daquilo que infelizmente são as relações interpessoais de muita gente.
É pena que aqueles rapazes e raparigas que são jovens, e que lamentavelmente querem ganhar dinheiro a qualquer custo, e ao invés de arregaçarem as mangas e botar a produzir, decidiram atirar-se de cabeça para um reality show, que na opinião deles lhes vai dar o sucesso que eles precisam, e que não teriam se levassem uma vida de trabalho.
E aqui temos de pôr a mão na consciência.
Temos muito boa gente que trabalha, produz, são artistas, fazem pela vida e não têm notoriedade nem muito menos são reconhecidas pelo público.
Estes senhores, que não passam de uns prostitutos acabam por ter muito mais tempo de antena e atenção do público, do que quem trabalha a sério!
Reparem que eu disse prostitutos. Disse e digo! Uma pessoa que se vende por causa de uma mentira, da intriga, que calca tudo e todos se for preciso para ganhar o jogo, que decide participar num concurso onde quem ganha é quem sabe mentir mais e enganar mais os colegas, É alguém que vende os seus princípios, a sua dignidade ou o seu carácter. Esses são bem piores do que as prostitutas da beira da estrada! Estas vendem o corpo, em troca de dez ou quinze euros dão prazer momentâneo ao macho, mas não vendem a alma.
Estes são prostitutos profissionais. Alguns até poderão também vender o corpo, mas a maior parte vai vender de certeza aquilo que de mais nobre tem, que é a sua honra.
O jogo em si é propício a isso. Não tenho dúvida que muita gente ao concorrer para este tipo de concurso, fê-lo com as melhores intenções. Mas todos eles foram sujeitos a provas rigorosas, e curiosamente foram escolhidos aqueles que segundo a linguagem provavelmente utilizada pela produção, seriam os mais flexíveis. Ou seja, é preciso garantir um espectáculo onde a mentira e o enredo estejam sempre de mãos dadas e desempenhem o papel principal, e naturalmente é preciso escolher as pessoas com o perfile mais adequado para proporcionarem este tipo de espectáculo.
E agora todos podemos ver, as pessoas são pagas para mentir, inclusive têm de desempenhar missões que consistem em convencer os colegas de factos que não são verdadeiros. Têm de seduzir falsamente os companheiros, no fundo são seres humanos que estão a ser pagos para fomentar a intriga e a desconfiança naquela casa.
Eu sei que isto espelha bem, muito do que se passa na sociedade civil. Infelizmente, este tipo de comportamentos, apesar de estarem mais camuflados, são apanágio das relações profissionais e laborais de muito boa gente. A questão é quando isto passa a regra, e de certa forma fica legitimado com o dinheiro pelo meio.
Fiquei absolutamente desiludido com o programa em causa, ainda bem que o vi apenas uma vez, e não tenho prazer nenhum em saber quem se vai safar melhor neste mundo da mentira e dos segredos escondidos.
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