sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Processo Casa pia - comentário pessoal

Pela forma apaixonada, como muita gente tem reagido à leitura da súmula da sentença do processo casa pia, se percebe que o tribunal não teria outro remédio senão condenar os arguidos com penas pesadas.
Seria um escândalo nacional se não houvessem condenações exemplares, e sejamos directos, seria um verdadeiro terramoto na opinião pública se Carlos Cruz fosse absolvido.
O grave problema, que parece que ninguém deseja reflectir, é que justiça não é isto. Justiça tem de ser algo muito concreto e preciso. Os factos devem ser objectivos, e nenhum de nós neste momento tem conhecimento do fundamento da condenação.
E se corremos o risco de condenar por convicção, só porque a comunicação social diz que eles são pedófilos, é um caminho muito perigoso, porque nesta circunstância estamos todos a condenar sem conhecimento de causa, correndo obviamente o risco de estarmos a ser altamente injustos.
E falando em justiça, este processo não é justo. Aconteça o que acontecer, basta-me as vítimas virem dizer que à muita gente que devia estar sentada no banco dos réus, e que não esteve, para eu dizer que não se fez justiça. Justiça seria quanto muito condenar toda a gente.
Também à situações que no meu ponto de vista deveriam dar que pensar.
Se as vítimas que ao que parece não tinham grandes recursos económicos, como é que eles foram capazes de pagar a José António Barreiros, Daniel Proença de Carvalho, António Pinto Pereira e Miguel Matias?
Quem pagou aos advogados? Porque é que gradualmente eles foram deixando de patrocinar a causa?
Todas as vítimas receberam à cabeça cinquenta mil euros para não processar o estado.
é uma medida que muita gente acha bem, mesmo assim sem se questionar porque é que o estado pagou mesmo antes de haver uma sentença, porque levaram todas as vítimas por igual, quando de certeza que nuns casos as violações e sofrimento serão maior do que noutros, o facto de algumas vítimas terem assumido que também participavam na rede de tráfico de crianças, e deverem ser logo arguidas, o facto de o estado noutras situações demorar imenso tempo a pagar indemnizações, e a esse respeito eu recordo o caso das vítimas do áqua parque do Restelo, em que o estado foi condenado a indemnizá-las, mas recorreu da primeira instância, que o condenou a pagar uma indemnização às vítimas.
Mas neste caso do processo Casa pia, o estado assumiu no imediato pagar a indemnização sem que o caso fosse sequer julgado.
Quando uma criança voltar a ser abusada num colégio sobre a tutela do estado, também vai ter direito a uma indemnização tão avultada? Só estou a perguntar!
E temos ainda o os jornalistas. Foram imensos aqueles que se meteram até aos ossos neste processo. As vítimas tiveram direito a viajarem de avião para serem entrevistadas, etc.
Por tudo isto, não lhes sugere que todo este processo é francamente estranho?
Eu não sei se o Carlos Cruz é culpado ou inocente. Humanamente tenho de lhe dar o direito de defender a sua inocência e o seu bom nome, usando todos os meios que estiverem ao seu alcance. Vivemos numa sociedade de direito. A pena de morte já foi abolida à muito!
Esta prerrogativa aplica-se naturalmente a todos os arguidos.
Estranho muito do facto de o tal Francisco Guerra, que é um dos que acusa o Carlos Cruz, e é uma das principais vítimas, dizer que o Carlos Silvino era o seu ídolo, confessou que andou no esquema de angariação de menores. Não foi acusado? Então ele confessa um crime, e ainda por cima é dado como testemunha altamente credível sem sequer porem em causa aquilo que ele diz?
À outro sujeito que está preso no Brasil, alegadamente por tráfico de droga.
E então sustenta-se uma acusação com base neste tipo de depoimentos? Eles até podem ser verdadeiros, mas temos sempre de admitir a hipótese de não serem, e não seria prudente uma investigação séria e rigorosa para que a acusação possa estar munida de muitos mais elementos de prova? Se eles ao que parece não têm uma prova muito consistente, acham que se pode destruir alguém assim tão levianamente?
Ainda por cima a leitura da sentença já teve lugar na Sexta Feira e ainda nem sequer foi disponibilizado o acordam. Qual é o objectivo? Admiram-se de as pessoas porem em causa o facto de ele já estar pronto? O grave problema é que infelizmente os juízes vivem num pedestal e ninguém lhes pede responsabilidade. A onde se viu uma pessoa ser acusada sem ter em sua posse o fundamento da acusação?
E um acusado inocentemente, também não é uma vítima?
Todos sabemos que à tráfico de Droga. Não vamos acusar ninguém inocentemente só porque entretanto chegamos à conclusão que precisamos de prender alguém por causa deste flagelo. Prendam-se sim os traficantes, não os inocentes. Aqui prendam-se sim os pedófilos. Quem for pedófilo acho bem que seja condenado. Mas este processo de tão estranho e escuro que é, faz-me estar francamente de pé atrás.

Sem comentários: