O processo Casa Pia
Fonte.
Jornal de Notícias.
Abaixo da notícia, vai o meu comentário.
Marinho critica exageros de Carlos Cruz
Carlos Cruz exagerou ao comparar o julgamento que o condenou a sete anos de prisão aos tribunais plenários anteriores ao 25 de Abril, considerou Marinho
Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados.
"Não tem comparação. Ele pode discordar da sentença e, provavelmente, a sentença até pode ser injusta para ele, mas tem todas as garantias para recorrer",
acrescentou.
Na tertúlia "125 minutos com...", na Figueira da Foz, Marinho Pinto também criticou as declarações dos advogados no exterior do tribunal. "A função do advogado
é pressionar o juiz dentro do processo. Cá fora, não deve falar, o estatuto [da Ordem dos Advogados] não o permite", argumentou.
Fim.
Agora o meu comentário pessoal.
Quem se ficar pela leitura do título desta notícia, creio que fica com
uma opinião distorcida daquilo que na verdade pensa o bastonário da ordem dos Advogados, Doutor Marinho Pinto.
Eu próprio quando li esta notícia, veio-me logo à cabeça que ele estava a criticar as entrevistas que o Carlos Cruz deu depois da leitura da súmula da sentença.
Mas Marinho Pinto critica uma afirmação de Carlos Cruz, que com o devido respeito, se a enquadrarmos neste processo no seu todo, é uma crítica para mim absolutamente irrelevante.
Uma declaração feita a quente, minutos depois de saber que tinha sido condenado, é humanamente aceitável, apesar de eventualmente não concordarmos com ela, e eu de facto não concordo.
começa logo pelo facto de, se estivéssemos ainda no estado novo, a pedofilia não era considerada crime. Mas mesmo que se estivéssemos a falar no cometimento de algo punível pela lei vigente na altura, o arguido não tinha as hipóteses de recurso que hoje tem.
Mas tal como Marinho Pinto, eu também acho que esta sentença provavelmente é injusta para Carlos Cruz.
Digo provavelmente, não estou a afirmar. O que posso afirmar, e isto digo-o independentemente do que acontecer a partir daqui, eu creio que este processo terá sido injusto. E se analisarmos os festejos que as vítimas fizeram, e também as declarações produzidas por muita gente, dizendo com todas as letras que finalmente se fez justiça, fico francamente espantado quando mais à frente ouço essas pessoas dizerem que deveriam estar mais pessoas ali sentadas no banco dos réus, e consequentemente condenadas.
E fico absolutamente estupefacto, porque se me dizem que temos um processo, onde à mais pseudo culpados e que nem sequer foram julgados, não sei como se pode afirmar que se fez justiça.
Justiça, seria julgar e condenar todos os abusadores das vítimas da Casa Pia.
E agora, eu pergunto. Da mesma forma que muitos deveriam ser julgados e condenados não o foram, será que todos os condenados são pedófilos?
Não sou capaz de responder a esta questão, o que digo é que pelo que tenho lido, e devo dizer sem qualquer espécie de preconceito que tenho lido muita informação da que está disponibilizada no site do
Carlos Cruz,
e se analisarmos os testemunhos, o respectivo perfile, os avanços e recuos, as contradições, as mentiras, as tristes coincidências, o envolvimento de pessoas estranhas, designadamente jornalistas da TVI, as datas em que certas diligências são feitas, e aqui incomoda-me muito o facto de o nome de Carlos Cruz só ter sido arrolado depois dele ter dado as célebres entrevistas, e muito depois de cada testemunha ter sido interrogada pela primeira vez, e o procurador do ministério público ter afirmado que as entrevistas que Carlos Cruz deu foram um suicídio.
Que justiça é esta? O facto de se dar entrevistas influencia alguma coisa no processo de investigação e de condenação? Não estamos num país livre, em que cada um se pode defender da maneira que ache mais adequada? Os tribunais vão passar a julgar atitudes, e não factos?
Iço preocupa-me solenemente.
Não vou obviamente dizer peremptoriamente se qualquer um dos arguidos é culpado ou não. Tenho as minhas convicções, mas são minhas. O que digo é que neste processo não se fez justiça, e que por isso foi um dia negro para quem como eu quer confiar na polícia e nos tribunais.
Foi uma enorme machadada na credibilidade de ambas as instituições soberanas.
Para um leigo como eu, assistir a tudo isto é, acreditem, perfeitamente agoniante.
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