O tempo. Esse malandro que nos leva para o abismo.
Nesta corrida desenfreada contra o tempo, parecemos almas moribundas a caminhar para o vazio, para um infinito composto por nada, em que tudo o que se vive é um absoluto deserto.
Ainda não passou um dia, já estamos à espera do outro, e assim se passam os meses e os anos, tão rápido que nem damos conta de nada.
E quando chegamos ao final da nossa vida e marcamos encontro com o infinito, ficamos com o terrível sentimento que afinal, tudo foi tão efémero, tudo passou tão depressa. Ai se pudéssemos voltar atrás!
A culpa desta loucura são as rotinas e os ritos. Não tenho a menor dúvida.
As rotinas porque nos fazem passar os dias a correr, a fazer sempre a mesma coisa, estando praticamente mortos. à vida quando criamos, quando inventamos algo de diferente, quando somos capazes de fazer algo de verdadeiramente inovador. Isso sim é vida.
Quando já não somos capazes de reinventar a nossa existência, não passamos de máquinas ambulantes, com sentimentos é certo, mas máquinas programadas para executar sempre as mesmas tarefas, às horas previamente determinadas e de preferência não avariar, porque se isso acontecer passaremos como qualquer máquina, a fazer parte da pré-história, e seremos inevitavelmente arrumados para um canto.
Não nos deitam ao lixo, mas não tão poucas vezes como isso, destroem-nos, e tudo, porque já não fazemos as coisas que outrora nos tinham programado para fazer.
Os ritos porque condicionam definitivamente a nossa vida. Temos dias certos para estar em festa, para oferecer presentes, para fazer luto, para chorar e até imagine-se, temos um dia certo para nos mascarar.
Fora disso, não à espaço nenhum para a nossa criatividade e para o livre arbítrio.
Se em Maio me apetecer montar um presépio em minha casa, todos me hão-de chamar maluco, e é bem provável que mandem internar num hospital psiquiátrico!
Mas os ritos têm ainda outra coisa dramática. É que nós estamos tão formatados que só queremos é livrar-nos da nossa rotina e saltar de rito em rito. E quando termina a prática de um rito, já estamos a contar os dias para o rito seguinte. Pensamos nós que vamos saltar de festa em festa, mas enganamo-nos redondamente! O que estamos é a caminhar de rito em rito até ao rito final.
E então vestimos o nosso melhor fato de cerimónia e fazemos aquilo que o mercado quer que façamos. Se o rito é para estarmos contentes, e saltarmos cheios de nada, com uma aparente felicidade exterior, mas com um vazio interior que até mete dó, ou então se o rito for para estar triste, fazemos a melhor cara de desterro que conseguimos, e desatamos em pranto, aí mostrando que o ser humano é infelizmente tão robot.
E é essa mecanização na forma de agir, de festejar, de chorar, em suma de viver, que me faz chorar lágrimas de dor e de sangue, cada vez que penso nesta nossa humanidade, e no futuro que estamos a criar.
Falta mais liberdade, mais autenticidade, mais espontaneidade, mais fraternidade, mais espírito de partilha. Sonho com uma humanidade em festa, onde as pessoas cantam e dançam como se fossem os pássaros a chilrear.
Sonho com os homens tão unidos, tão fraternos e sinceros como são os lírios do campo. E que bom era que fôssemos irmãos de verdade. Que cada homem fosse único e irrepetível, e não como acontece agora onde com esta massificação de culturas, dá a ideia que somos todos iguais, escravos e subservientes desta economia de mercado que nos escraviza, e nos impõem a forma como devemos esbanjar os nossos recursos.
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