segunda-feira, 26 de julho de 2010

O senhor televisão

Era uma vez um senhor, que pelo seu talento, pela sua empatia com o público, pela sua espectacularidade e pela sua forma de comunicar, fez com que um dia uma nação quase em uníssono lhe chamasse, o senhor televisão!
Esse senhor foi o pai de grandes obras de arte, que vão ficar para sempre na memória e na história da caixinha mágica.
É um homem que profissionalmente falando, muito admiro.
Graças a um processo judicial altamente duvidoso, com contornos e moldes francamente inquietantes, a vida do senhor televisão foi destruída.
Foi assassinado profissionalmente, e claro também civicamente. É daquelas mortes tão ou mais dolorosas do que as mortes físicas. É que a morte física, faz com que o ser humano se liberte do acessório e fique apenas com o essencial. Esta morte foi mais cruenta porque destruiu a imagem, o carácter e a seriedade de um homem que aos olhos do povo era íntegro, e muito admirado.
A grande tragédia deste assassinato simbólico, é que mataram a alma do senhor televisão. E isso é por ventura mais dramático de que se lhe tivessem matado o seu corpo.
Se fosse uma morte física, hoje estaríamos aqui a recordar o homem pelos programas fabulosos que ele nos deixou, pelas obras de antologia que felizmente tive o prazer de ver. Mas hoje falamos do senhor televisão como presumível pedófilo. É terrível isto! Porque num país de direito não existem presumíveis criminosos, o que temos, são presumíveis inocentes. Quando alguém é aos olhos do povo criminoso até prova em contrário, está o estado de direito totalmente subvertido.
Eu sei que legalmente ele é arguido, mas ainda não foi condenado, logo goza da presunção de inocência.
Mas entre o tribunal civil, e o tribunal da opinião pública, vai uma enorme diferença, e no segundo, o senhor televisão já à muito que é considerado pedófilo.
Só à pouco tempo soube que os casos em que ele era acusado, ocorreram no ano 2000. Estava sinceramente convicto que estes casos eram da década de 80. Fiquei desde logo estupefacto. Não quero julgar ninguém, só digo que gostava de ver de novo nos ecrãs o senhor televisão, eu dava tudo para isso, gostava mesmo.
E tenho sinceramente muitas dúvidas, tenho mesmo muitas dúvidas, que em 2000 ele andasse nessa vida. Francamente não ponho as mãos no fogo por ninguém, mas cheira-me que houve tramóia da grossa. E se for assim é péssimo para o estado de direito. Temos novamente alguém que foi crucificado na cruz do império. Se estes sete anos de tormento têm outras motivações, e eu acredito mesmo piamente que tenham, então não vale apena acreditar neste estado de direito, porque o dito já nem consegue vencer a mediocridade e a inveja dos pequeninos, e quando isso não acontecer, das duas uma, ou somos todos medíocres e damo-nos bem com os corruptos, ou então queremos ser simplesmente nós, com tudo de bom que isso acarreta, e aí podemos correr o risco que um dia alguém medíocre, manhoso, hipócrita, cínico, mau e sobre tudo invejoso, nos consiga arruinar civicamente.
Até me arrepio em pensar nisso, e só pelo facto de saber que no meu país temos destas coisas dá vontade de sair a gritar bem alto. Abaixo com os medíocres e os invejosos! Abaixo com os medíocres e os invejosos!
Estamos a construir uma selva a todos os níveis. Até nesta questão que envolve a defesa dos direitos liberdades e garantias, temos dado muitas machadadas, naquilo que já à muito deveria ser um dado perfeitamente adquirido.
Hoje queimam-se pessoas nas fogueiras da inquisição como se queimavam à 400 anos atrás.
Não se escandalizem! Antigamente as pessoas eram queimadas e mortas literal e fisicamente. Hoje são-no profissional e civicamente. Se tivermos em conta que na época da inquisição quase todos lutavam pela simples sobrevivência, hoje as motivações, as ambições e baluartes que nos fazem manter vivos vão muito mais além do que isso.
E se hoje toda a gente sonha em construir uma carreira profissional, e a vê queimada na fogueira da inquisição, como já tem acontecido com muita gente, estamos então a retomar essas práticas vergonhosas para a história da humanidade.
Ou seja, é uma inquisição mais refinada, com jornais, televisões e rádios à mistura, mas estes meios sofisticados, são mais nem menos do que as fogueiras que eram usadas naquele tempo.
Quando vemos as pessoas a serem enchuvalhadas e pior do que isso condenadas arbitrária e sumariamente na comunicação social, estamos a vivenciar a fogueira da inquisição a queimar a pessoa viva, com os melhares de curiosos a assistirem ao espectáculo.
De facto, a sociedade moderna, encontrou um meio fantástico para propalar a inquisição.

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