domingo, 11 de agosto de 2013

Concerto de Jorge Loureiro em são Pedro de Este em Braga

A noite deste sábado foi uma das mais quentes do ano aqui em Braga. Passei um pedacinho desta minha noite na companhia do cantor Jorge Loureiro e a sua banda. Conhecia muito mal este cantor. Tinha ouvido algumas músicas na rádio e pouco mais. Tenho de confessar que a ideia que tinha dele não era a melhor. Por azar, as cantigas que conhecia eram aquilo que eu chamo de a canção do desgraçadinho. Não tenho mesmo paciência para este tipo de abordagem, porque eu entendo que um artista como estes, deve ser um difusor de alegria, entretenimento e boa disposição. Como eu sei que este cantor tem presença assegurada em várias festas da região, movido pela curiosidade, lá peguei nas pernas e fui até são Pedro de Este em Braga, às festas de São Bento, para assistir pela primeira vez a um espectáculo de Jorge Loureiro e a sua banda. No global tenho de dizer que gostei e fiquei agradavelmente surpreendido. A grande parte das cantigas não eram nada do desgraçadinho, mas antes eram canções alegres, bem dispostas, agradáveis ao ouvido, que se enquadram perfeitamente num arraial como estes. Um grande mérito que tem de ser realçado é o facto de todas as canções serem originais. Fiquei mesmo muito contente com isto e valorizo mesmo muito a originalidade dos cantores e aqueles que assumem o risco de apresentarem aquilo que é seu, e não caiem na tentação e na preguiça de se limitarem a copiar as músicas de outros e não criam quase nada. Para além do mais, esta atitude plagiadora, que só é feita porque no Brasil existem muitas associações de autores, e não há uma estratégia concertada de defesa dos direitos de quem compõem, é demasiado comodista, porque antes do cantor português interpretar esse tema brasileiro, ele já sabe se ele deu ou não sucesso. Se um dia os brasileiros se organizarem e começarem e impedir que os estrangeiros copiem as suas músicas, vai ser o bom e o bonito para muitos artistas portugueses que ou vão abrir falência, ou então vão ter de começar a escrever e a compor a sério, tal como o Jorge Loureiro já o fez, e neste aspecto ele tem de ser valorizado e devemos dar-lhe os parabéns. Por isso, bem haja ao Jorge Loureiro por fazer as suas próprias músicas, criar as suas próprias letras, e algumas são bem bonitas e bem feitas. O concerto começou cerca das 22 horas e 40 minutos. Sinceramente não gostei da entrada. Uma apresentação descontextualizada, muito radiofónica, que estava desenquadrada para um espectáculo deste género. Mas a primeira música mudou logo a minha opinião. Gostei muito da melodia e da letra, e como sou curioso lá fui pesquisar no CD do Jorge Loureiro, e por sorte ela lá estava no disco, e então fiquei a saber que a música que abriu o concerto chama-se Olá amigos. Gostei bastante desta cantiga. O espectáculo decorreu quase sempre neste registo alegre. Houveram apenas duas ou três baladas mais sentimentais, que apesar de não ser o que eu mais gosto, reconheço que se não forem muitas elas cabem perfeitamente neste tipo de concerto. Embora os assuntos que ele abordou nas baladas não sejam de todo do meu agrado, mas lá mais para a frente eu explico porquê. Uma coisa que também quero destacar, é a qualidade das letras. Claro que são cantigas populares, com alguma marotice mas é uma marotice subtil e inteligente. Lembro-me da música do galo de Barcelos, gosto de brincar com caricas, e o tire-lhe os três. Quem ouvir estas letras percebe que há alguma marotice mas não é explícita, e eu gosto deste tipo de humor. Quando as letras são demasiado descaradas perdem a piada e tornam-se vulgares. A forma como ele interagia com o público era simples, falava o necessário. Pela reacção do público a música do euro milhões e do calceteiro foram as que mais empolgaram. Por falar em calceteiro não me agrada a forma como Jorge Loureiro enfatiza esta sua actividade profissional. Não que os calceteiros não me mereçam respeito, mas porque o Jorge Loureiro estava ali como cantor, e se ele quer ir longe, e obviamente pode ir, tem de mudar a imagem que pretende dar ao público. Percebe-se que ele vem de origens humildes e honradas, eu fico muito feliz em saber isso porque também tenho as mesmas origens, mas não é preciso estar sempre a falar disso, e a querer que as pessoas gostem mais de nós por causa das nossas origens. Aliás, conheço muitos cantores de sucesso que vieram de origens humildes, e embora pontualmente em entrevistas lá falem das suas raízes, não vão usar esse discurso nos concertos nem no resto do seu trabalho, com o objectivo de fazer com que de certa forma o público tenha pena e seja mais condescendente na avaliação que faz ao artista. O que as pessoas devem avaliar, é a qualidade do cantor, da sua voz, das suas músicas, da sua apresentação, no fundo devem gostar ou não de alguém pela qualidade do seu espectáculo. Não é por saber que o cantor tem origens humildes que se vai gostar mais ou menos do seu trabalho. Outra coisa que podia ser melhorada é a apresentação da sua banda. Ela foi apresentada aos fogachos, e nenhum de nós percebeu bem quem eram os músicos. Em minha opinião pessoal, devemos destacar aqueles que nos acompanham, e os músicos são muito importantes no sucesso do espectáculo, e por isso merecem que se crie um momento especial para os apresentar. Também não gostei da primeira desgarrada. Foi muito longa e se eu valorizo o humor subtil, não posso dizer o mesmo desta desgarrada que foi muito directa e brejeira. Eu sei que é tudo brincadeira, e o Jorge Loureiro fez questão de o dizer, e todos percebemos, mas não é preciso ser tão directo, falar em partir camas e tudo isso, porque eu que nem sou nada complexado, e gosto muito de fazer humor, sei que podemos fazer humor de uma forma mais fina, não tão explícita, porque quando as coisas são demasiado óbvias perdem toda a piada, e torna-se uma conversa que se não for travada, até pode chegar a ser porca. Gostei da ideia de homenagear a comissão de festas. No final foram todos ao palco e num ritmo de cana verde, eles cantaram uma quadra dedicada a cada membro da comissão, devidamente personalizada, com o nome de cada um e tudo. Um aspecto que pessoalmente não gostei, e que já há pouco falei ao deleve, foi aquela desajustada e até certo ponto fanática referência religiosa, que se traduziu por exemplo na música a teus pés eu vou rezar, ou então o é tudo por deus. Respeito a fé de cada um, mas Uma coisa é o espectáculo, outra coisa é a religião, e por acaso as letras destas músicas, mesmo teologicamente falando são um absurdo. Nem sequer os profissionais da religião usam este tipo de discurso. Eu gostava que o Jorge Loureiro se deixasse dessas coisas, porque esta incursão religiosa é como esta mania de dar uma imagem de pobre e humilde. Ele tem valor para não tentar fazer com que as pessoas se comovam e tenham pena deste tipo de abordagem. Ele tem canções bonitas, alegres, sabe dar um bom concerto, e é nisso que ele deve trabalhar todos os dias. Ainda bem que esta noite fui a são Pedro de Este, porque gostei bastante deste espectáculo, e apesar destes pontos negativos, os positivos foram muito maiores.

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