Uma igreja de homens humanizados
Esta bem que podia ser uma súplica ou uma prece, mas não sei se há algum Deus capaz de fazer ver a estes responsáveis máximos do Clero, que uma igreja assim está nos antípodas do humano. A renúncia do cardial Joseph Razinger é o paradigma de que para a Igreja é só mistério, só fantasia, só fantochada. Numa instituição normal integrada na sociedade actual, esta seria uma renúncia absolutamente normal. Um homem com 85 anos, que já não tinha o vigor, a força física e mental para ser o responsável máximo da instituição, achava que o melhor era dar lugar a quem fosse mais novo, tivesse mais energia, ideias novas e diferentes, e maior capacidade para continuar este trabalho. Só o facto de se discutir se o Cardial Joseph Razinger fez bem ou mal, demonstra bem o quan monstruosa é esta instituição que estava habituada a que os papas mesmo definhando, mesmo num sofrimento verdadeiramente desumano e inaceitável continuassem a exercer funções até ao dia em que fisicamente deixam de estar vivos. Em mais nenhum lado se vê isto, só na igreja! Por isso, é normal que eu tenha ficado feliz pelo facto de este homem ter tido a humildade e a honestidade intelectual de admitir que nesta fase da sua vida ele não tinha condições para exercer o seu papado, pese embora obviamente poder continuar a ser útil à sociedade, mas em funções que exijam menos sob todos os pontos de vista. Por outro lado, aceitar perder todo o poder que tinha enquanto papa, é só por si uma atitude muito humilde, e embora se especule, admito com razão, que os motivos que o levaram a renunciar foram de outra ordem, acho que mesmo assim, é de louvar este desprendimento. O que aconteceu depois do anuncio da renúncia, foi em minha opinião deplorável, sendo que o pico mais alto da demência foi atingido precisamente ontem, no último dia do seu papado. A forma como foi apresentada a sua saída do anúncio apostólico, a ideia que passou segundo a qual estas teriam sido provavelmente as últimas imagens públicas do cardial, já que a parti daqui ele vai ficar enclausurado e provavelmente não vai mais ser visto em público, é absolutamente indigno para um homem, e enoja-me enquanto ser humano. Por momentos, acreditem que pensei que só faltava marcarem a hora para o Cardial morrer, e as televisões transmitirem em directo a sua morte, e claro posteriormente as suas exéquias fúnebres. Será assim tão difícil que a igreja abdique de toda esta pantomina, e passe a ser uma instituição normal, feita de homens e mulheres normais, e nunca de monstros? Seria assim tão difícil aceitar e conviver com a ideia de termos um cardial Joseph Razinger, com um estatuto de cardial, de homem normal, que possa aparecer em público quando entender que o deve fazer, mesmo devendo obediência a outro papa? É precisamente isso que sucede a um líder político. Ele enquanto está a exercer funções é líder, a partir do momento em que por qualquer motivo as deixa de exercer, passa à condição de cidadão normal, e não morre ninguém por causa disso. É pena, que uma atitude que apesar de tudo foi extremamente positiva, porque pode deixar aqui aberto um bom precedente, que é, quando um papa sentir que não tem condições para estar altura da importância do cargo, renuncia, acabe depois por assumir contornos de verdadeira espectacularidade mediática, mas que é deprimente, desumana, e até mórbida, porque dá a ideia que o papa ontem se despediu do mundo visível, e que agora vai ser uma espécie de enclausurado, onde ninguém já mais pode falar com ele, onde já mais vai dar entrevistas, já mais vai partilhar a sua sabedoria com a humanidade. É quase como se tivesse ontem morrido para a opinião pública e para a sociedade. Confesso que essa postura me chocou e me indignou. Eu quero um Cardial Joseph Razinger vivo, interventivo, construtor desta nossa sociedade, se possível até ao seu último suspiro. Eu com esta mensagem, acreditem estou a prestar uma grande prova de amor ao homem, que não merecia ser morto desde já pela cúria Romana.
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