Grândola. Um hino transversal a muita coisa do que se passa nos dias de hoje
Grândola é uma grande música que merece ser recordada e transportada para os dias de hoje, sem macaquinhos nem complexos ideológicos. Eu, pese embora não ter nada haver com esses movimentos do que se lixe a troika, e outros idênticos que não trazem nada de novo, só mera confusão mediática que em último caso só empobrecem a democracia, gosto muito desta musica, e gostava de viver numa Grândola de igualdade, de fraternidade, em que o povo é quem mais ordena. Mas para podermos ordenar e mandar bem, é preciso sermos lúcidos e esclarecidos, e fazer escolhas. O problema aqui é mesmo este, as escolhas! E digo com toda a frontalidade que se é verdade que não podemos estar condenados a uma espécie de capitalismo selvagem que nos ajudou a empurrar para aqui, também não estamos perante uma escolha entre, ou isto ou a anarquia. Penso que a globalização que tanto se fala, a Europa que tanto nos deu jeito para alimentar muitas coisas boas e más que fizemos tem inúmeras vantagens, mas também tem custos, e é sobre isso que importa reflectir e construir alternativas. O tempo histórico como este em que vivemos é muito propenso aos discursos demagógicos, populistas e extremistas tanto de estrema direita como de extrema esquerda. Se realmente queremos as nossas vidas, à que evitar este tipo de radicalismos. Como diria, nem podemos estar entregues à fome devoradora de alguns agentes do mercado sem escrúpulo e autênticos sangue sugas, nem infelizmente podemos viver num mundo utópico, onde é possível ser reformado aos 50 anos com 3, 4, 5, 6, 7 mil e mais de reforma, esperando que os que vêm atrás paguem essas loucuras. Mas eu sou obrigado a pagar isso? Fico espantado quando oiço por exemplo muita gente a falar das eleições em Itália, nomeadamente o caso Beppe Grillo. Um palhaço que quase ganhava eleições, e que agora tem força para pura e simplesmente boicotar toda a governação naquele país. Eu não sei se conhecem as propostas do senhor. Mas uma delas é a de passar a semana para 20 horas de Trabalho. Por amor de deus, mas isto é sério? Eu sei que é democrático, mas será isto intelectualmente honesto? E já não falo da postura do senhor. No dia das eleições ele não apareceu publicamente, deu uma entrevista telefónica ao seu site, a dizer que não queria ir para o parlamento, que ia estar a controlar tudo através do terraço da sua casa em Génova. E é este tipo de discursos que consegue 25 % de votos em Itália, quase 9 milhões de Italianos. Eu recordo que Hitler por exemplo também foi eleito. E hoje está visto que foi uma decisão muito acertada do povo alemão, não foi? Por isso, digo com toda a serenidade que é verdade que o povo é quem mais ordena, mas por vezes é o povo quem mais se engana. E também tenho de escrever que, muitos dos que se manifestam dizendo-se do povo e que por isso devem ordenar, o que eles queriam mesmo era ordenhar! Por isso, nada como a lucidez, e já agora tentarmos aproveitar o bom de cada modelo político, se é que é possível. Agora, voltando à Grândola, eu não sei se o José Afonso estivesse vivo iria ou não gostar que esta canção fosse tão vulgarizada, por pessoas que tenho de o dizer, não contribuem nada para o bem comum, e até adoptam tiques verdadeiramente antidemocráticos. Não conheço o Grande José Afonso a ponto de poder dizer se ele ia gostar ou não, nem já mais tenho a ousadia de falar em nome dele. Mas, posso dar a minha opinião, e eu acho que comparar os tempos de hoje com 1974, só por mera brincadeira e leviandade. Vamos lá pôr as coisas como elas são, e dizer que felizmente estamos muito melhores do que nesse tempo, a todos os níveis, e nem é previsível que regressemos, pelo menos na próxima geração a esses tempos, e isso pelo menos não nos deve pôr tão pessimistas como andamos actualmente. Luta, sempre. Resignação, Nunca. Realismo, sempre Populismo e demagogia, Nunca. Lucidez, Muita. Parvoíce, nunca.
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