sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Carnaval é o paradigma da palhaçada que é o meio feriado que é dado aos portugueses

Começo por fazer uma declaração de interesses. Sou um dos felizardos que não tem de ir trabalhar na próxima terça feira de carnaval. Já no ano passado tive oportunidade de criticar veementemente este governo porque tem vindo a adoptar uma postura de ajudar a estupidificar mais a nossa sociedade. Com este embuste que os portugueses são malandros e precisam de trabalhar, foram cortados 4 feriados, e 3 dias de férias. E ainda como se não bastasse o carnaval, que tem sido sempre dia de descanso para a generalidade dos funcionários públicos, nos últimos dois anos não foi. O mais caricato é que o dia de carnaval demonstra a palhaçada personificada nos vários países que temos. Os funcionários que dependem do governo, coitados, estão a trabalhar. Por outro lado os outros funcionários públicos que não dependem do governo, ficam à mercê das chefias, e uns como eu, ficam em casa, outros têm o azar de trabalhar. Para além disso temos as IPSS que também optam por darem este dia aos seus funcionários, e pasme-se, como se tudo isto já não fosse suficiente, temos ainda os privados, que numa boa parte dos casos podem gozar o dia de carnaval à sua vontade, porque os patrões entendem, e no meu ponto de vista bem, que não é o dia de carnaval que vai beneficiar ou prejudicar a nossa competitividade. Eu não sei se estão a entender o caricato desta questão. Tirando o governo que de uma forma casmurra e demagógica manda todos os seus dependentes trabalhar, o resto do país faz como bem entender. E arrisco dizer que uma boa parte desse país opta por dar descanso aos trabalhadores. Enquanto o governo manda trabalhar, os outros mandam ficar em casa. Querem carnavalada maior do que esta? Eu sou apologista que o carnaval seja um dia de folga. E se repararmos no nosso calendário, verificamos que se não for esta festa, as pessoas têm 3 meses consecutivos sem uma paragem na sua rotina. E o mais curioso, é que estamos tanto tempo seguido sem feriados, e depois em Abril temos num curto espaço de tempo 3. A Sexta Feira santa, Muitas vezes a própria Segunda feira de Páscoa, e o 25 de Abril. E claro seis dias depois o 1 de Maio. Ou seja, se a Páscoa for por exemplo na primeira semana de Abril, em 3 semanas temos 4 feriados, enquanto nos primeiros 3 meses do ano não temos nenhum. Um outro argumento que eu utilizo cada vez que falo neste aspecto, é a necessidade que as pessoas têm do seu lazer. Quer se queira quer não, as sociedades civilizadas precisam de ócio, o trabalho se não for acompanhado de períodos em que as pessoas podem relaxar, fugir da rotina, passa a ser entediante, e depois é normal que as pessoas o encarem como frete, como uma obrigação, e pior do que isso, algo que se faz não por prazer mas sim porque se precisa do dinheiro para comer. E eu ainda acredito que é possível trabalhar com prazer, com paixão, como gozo, com vontade, naturalmente com o objectivo de se ser remunerado, mas com a felicidade de se juntar o útil ao agradável. E não é com esta postura achinesada que vamos resolver o problema. Porque ao contrário do que os responsáveis políticos papagueiam muitas vezes, os exemplos da Europa desenvolvida dizem-nos que os trabalhadores não fazem mais horas de trabalho que nós, até fazem menos! Podem produzir mais e melhor, e isso de fato assim acontece, mas em tempo contabilizado trabalham menos do que nós. Se me disserem que nos temos de organizar melhor, que precisamos de ser mais competitivos, mais dinâmicos, mais abertos à mudança e deixarmos de ser relutantes e pensar que o que nós aprendemos naquele momento serve para toda a vida, isso estou inteiramente de acordo. É preciso claramente mudar o paradigma. Agora se me dizem que temos de trabalhar mais, isso discordo frontalmente. É aliás contra producente. Se obrigam as pessoas a trabalharem mais, vão criar desmotivação, desânimo, e se já de si o paradigma está errado no que respeita à mentalidade de muitos trabalhadores, então se não os motivarmos, se não lhes fizermos entender que uma empresa é um projecto comum e não do patrão ou de meia dúzia, não vamos conseguir mudar a dinâmica do trabalho, vai ficar tudo na mesma, e com uma sociedade mais estúpida. Porque um homem com menos tempo para o lazer, para a cultura, para a família e para os amigos, será necessariamente um indivíduo mais castrado, mais robotizado e menos autêntico. Muito menos autêntico. E o importante é termos homens e mulheres com personalidade, com mentalidade e ideias próprias, e para isso é preciso tempo para que cada um se possa cultivar. E se na próxima terça feira andarem por aí e verificarem que uma parte do país está a trabalhar, outra parte está muito divertida a assistir e a participar nos desfiles de carnaval, vão chegar à mesma conclusão que eu. Que grande palhaçada vai neste nosso país que tanto gostamos!

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