Sexo versos religiões
A forma como as religiões têm lidado com o sexo é um tema muito interessante, e dá pano para mangas.
Gosto de enquadrar a questão sexual com a questão afectiva.
O ser humano vive de afectos, e num casal onde duas pessoas pretendem
partilhar as suas vidas, eles são fundamentais para a solidez da relação.
Obviamente que o sexo propriamente dito é um dos resultados mais visíveis
dessa partilha de afectos. Mas numa relação em que não existem afectos, o
sexo a existir será inevitavelmente mau, e numa relação onde não exista
sexo, os afectos também não existem.
Mas qual é o papel das religiões em tudo isto?
Infelizmente é muito negativo. Senão vejamos.
O que nos foi ensinado ao longo do tempo, foi que o sexo era algo perverso,
algumas religiões apenas permitiam o sexo para a procriação, e curiosamente,
em 2012 ainda é nessas águas que navegam algumas delas.
Muita gente que não pratica o sexo com a frequência e a qualidade desejadas,
são alvo de profundo preconceito, fruto da ideologia que lhes foi transmitida ao longo do tempo.
Mas está na hora de evoluirmos a nossa concepção das coisas, e é preciso
dizer de uma vez por todas que o sexo não é mau, que não é perverso, que pode
e deve ser praticado intensivamente.
Por isso, estou frontalmente contra a forma como as religiões encaram o sexo, e penso mesmo que
quem convictamente achar que o sexo apenas serve para procriar, é alguém
mentalmente perturbado, doente, traumatizado, assustado com as
catequeses repressoras que teve na infância.
O sexo é uma fonte inesgotável de prazer, fortalece o nosso estado de espírito, relaxa, descontrai,
torna-nos com melhor sentido de humor, e por exemplo, permite-nos criar
cenários fantásticos com os nossos parceiros ou as nossas parceiras.
Há um aspecto no sexo que tem sido muito pouco abordado e que me parece
muito interessante.
Para nós adultos, o sexo pode ter o mesmo efeito que tem o processo de
brincar para as crianças.
Os mais pequenos, utilizam as brincadeiras para se divertirem, para
inventarem cenários, por isso brincarem aos polícias e aos ladrões, às
casinhas, aos médicos e às enfermeiras etc.
Nós adultos, como já passamos a fase de brincar, temos então o sexo como
escape, e podemos através dele fantasiar, criar histórias, fetiches, alimentar os tais
cenários que eu falava atrás.
E esta componente da fantasia é algo absolutamente extraordinário, e em
minha opinião devia ser aproveitado por todos os homens e mulheres.
Outra grande vantagem do sexo é a descoberta constante do parceiro ou da
parceira.
Como todos sabemos, quando o sexo é bom e nos realiza, é altura onde fluem
mais os nossos instintos primários, a nossa intimidade, no fundo é quando se
revela a nossa maneira de ser mais íntima, profunda, digamos assim sem
máscara.
Se duas pessoas que vivam juntas não experimentarem muitas vezes estes
períodos intimistas de intensa e constante descoberta, pode dar-se o caso de
viverem juntos muitos anos, mas em bom rigor, pouco conhecem da intimidade
um do outro.
se uma pessoa aos 30 anos por exemplo nunca praticou sexo, é algo
que a deve preocupar.
E se isso resulta de uma opção pessoal, aí o caso é mais grave porque podemos estar perante um distúrbio de personalidade.
Primeiro porque a pessoa não pode falar de sexo se nunca o praticou. Logo se
decide não praticar uma coisa que desconhece, e que sabe através da
experiência de outros que dá imenso prazer físico, ou é masoquista, ou então
mentalmente perturbado, ou então aterrorizado com as tais catequeses repressoras, desculpem a sinceridade.
Da mesma forma que se alguém por exemplo decidir que não quer fazer a escolaridade obrigatória, o estado obriga as pessoas a irem à escola.
E sinceramente, não percebo como é que podemos aplaudir movimentos como
clubes de virgens, que falam daquilo como se fosse o maior orgulho!
Antes pelo contrário! Normalmente são pessoas reprimidas, que só não fazem
sexo porque não têm auto-estima, amor próprio, não desenvolveram capacidade
para criar relacionamentos efectivos, vivem constantemente à espera do
príncipe encantado, idealizam uma vida que não podem ter, são regra geral pessoas claramente infelizes, frias, distantes e inseguras, e que só assumem publicamente a
sua condição de virgens como forma de esconder a sua frustração, tentando
enganarem-se a si próprias.
Basta ver. Quantos relacionamentos amorosos essas pessoas tiveram? ^Qual o grau de
satisfação e de realização pessoal que extraíram de cada relacionamento?
Tudo isso devia fazê-las pensar, e como a gente sabe que nesse caso muitos
dos relacionamentos falham porque segundo essas pessoas ainda não estavam
preparadas para amar, é um pouco egoísmo pensar que o problema é só dos
outros, e nunca delas, não acham?
Se uma mulher ou um homem numa idade por exemplo depois dos 20
anos ainda não teve sexo, não é motivo para que eu se automutile,. Mas
deve estar atento, deve perceber que isso não é normal, que pode até ser uma
patologia. E sobre tudo, deve procurar apoio psicológico.
Não sou apologista que a pessoa só porque não
teve sexo, vá agora ter com o primeiro ou a primeira que lhe aparecer.
O que digo é que muitas vezes, essa falta de sexo, é patológica, e isso faz
com que a pessoa seja muito mais envergonhada, tenha medo de avançar com uma
relação porque ela pode falhar, não dê o primeiro passo adoptando uma
atitude passiva à espera que aparece alguém para a conquistar.
Há uma coisa que eu tenho de dizer.
Quando uma pessoa é segura de si, sabe o que quer, tem auto estima, não tem
medo por exemplo de dizer a outro ou a outra que gosta dele ou que gosta
dela, nem que leve uma nega, então o sexo aparece naturalmente, e a pessoa
vive muito mais feliz.
A falta do sexo não tem de ser necessariamente um drama! Desde que as
pessoas tenham consciência que se podem tratar, não vem mal nenhum ao
mundo.
Obviamente que eu respeito a liberdade de cada um desde que não prejudique a
liberdade de terceiros. E neste caso, é claro que um ou uma virgem não colide com
a liberdade de outrem. Mas eu na minha liberdade, digo que uma pessoa nessas
circunstâncias não se devia orgulhar, mas sim procurar ajuda médica
especializada, não obviamente para praticar o sexo, mas para vencer os traumas, começar como qualquer outra pessoa a
desenvolver as suas relações amorosas, dar-se aos outros e receber dos
outros, viver a vida, aproveitando a beleza que ela tem, e ajudar
essa pessoa a ser mais confiante, e a não ter medo de avançar, nem que as
coisas não dêem certo.
É que muitas vezes, temos patologias, traumas e afins que desconhecemos, ou pior, até sabemos que os temos mas achamos normal.
Por exemplo: Há muita gente que tem fobia a andar de avião, e encara isso com normalidade.
Só que eu entendo que isso pode ser normal até certo ponto. Se eu tenho fobia aos aviões, e enjeito a possibilidade de viajar pelo mundo, ou até de poder ir à procura de uma vida melhor, então essa fobia passa a ser patológica.
É preciso de uma vez por todas acabar com esse mito que os medos, fobias e traumas que cada um de nós desenvolve são normais. Não são normais coisa nenhuma.
Devemos estar atentos a eles, e na medida do possível, devemos vence-los.
Se eu vou estar a vida toda tolhido por um medo, se neste caso vou ficar triste comigo próprio porque tenho uma oportunidade fantástica para conhecer outros mundos e não quero ir porque tenho fobia ao avião, então eu vou ficar frustrado comigo, a minha auto estima vai descer, vou ficar a pensar que sou o ser humano mais infeliz do mundo, quando tudo seria mais simples, se eu admitisse que tinha essa fobia, que precisava de a vencer, ou na pior das hipóteses conviver com ela, e assim eu fazia a viagem, realizava-me pessoalmente, conhecia outras realidades, vivia sem dúvida mais feliz.
Com o sexo, é a mesma coisa.
A pessoa tem fobia ao sexo e consequentemente às relações inter pessoais mais íntimas.
Conclusão: essa pessoa até pode gostar de outrem, mas vai se acanhar, não vai querer assumir um relacionamento porque se sente insegura e não sabe bem se aquilo vai ser ou não para toda a vida. E de oportunidade em oportunidade a pessoa vai deixando de viver esta coisa extraordinária que é a paixão.
É que sem paixão, não pode vir depois o amor.
Claro que o sexo não é a panaceia para todos os males. Também convém
dizer que é errado pensar que o sexo se limita à penetração
propriamente dita.
É muito mais do que isso.
Quando se fala em sexo, falamos em partilha de corpos, em entrega, em fim, é
um campo muito livre para que cada um possa praticar de mil e uma formas.
O que interessa é que as pessoas se sintam realizadas e que isso lhes
faça bem à alma.
Quanto mais em harmonia física e intelectual as pessoas viverem, melhores
são, mais felizes e realizadas vivem.
E para quem acreditem em Deus, certamente que concorda comigo, que o que
deus quer é que vivamos felizes, em harmonia com a natureza, connosco
próprios, com os outros.
Nós vivemos tão pouco tempo, tempo de menos para
desperdiçar com estas ideias pré históricas, que estão muito longe de nos
elevar à verdadeira condição de homens e mulheres criadores, seres em
celebração constante da vida, seres em co-celebração com a natureza.
E se o sexo é também uma criação de Deus, e se através dele alcançamos
sensações absolutamente indescritíveis e fantásticas, então devemos dar-lhe graças por sermos dotados de inteligência para extrair o máximo
prazer possível do sexo, e ao fazermos isso, estamos sem dúvida a glorificar
o criador, que quer que nós sejamos felizes, e que com essa felicidade,
possamos contribuir para a felicidade dos que nos rodeiam.
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