O lava pés do papa. Atitude muito cómoca mas hipócrita.
O cerimonial do lava pés que ontem foi protagonizado pelo papa, líder máximo da igreja católica, é representativo da forma como a igreja trata as questões, com demasiado simbolismo, que não passam disso, atitudes de cosmética, vazias de qualquer sentido, e que na vida real não trazem qualquer efeito prático.
Por outro lado, é uma prova cabal que a igreja se preocupa em interpretar quase que à letra aquilo que os evangelistas atribuem como sendo práticas de Jesus, mas esquecem-se de duas coisas muito importantes.
Uma é que eles falam muito nas práticas de Jesus mas não as praticam. Porque Jesus já mais se compadece com poder.
Outra é que o mais importante nos dias de hoje não é aquilo que está na bíblia mas sim a forma como podemos fazer destes ensinamentos úteis e construtivos para as populações aqui e agora.
O problema não é o facto de o papa ter decidido lavar os pés a 12 outros padres.
A questão é que esta atitude é completamente vazia de sentido, e não passa de um mero cerimonial que a igreja muito preza, o tal rito, e não nos podemos esquecer que estamos a falar da instituição que mais cultiva esses ritos.
mas é preciso dizer que a essência desta atitude de Jesus não é nada aquilo que a igreja faz transparecer neste rito.
É por isso importante percebermos a mensagem que Jesus nos terá querido deixar com esta atitude, que até pode ser mítica, mas é altamente profunda, e merece que nós reflictamos nela.
Pensemos num aspecto importante.
Se estivéssemos a falar dos dias de hoje, podíamos dizer que Jesus tinha os seus 12 discípulos quase como subordinados.
Agora imaginem que um líder todo poderoso como era Jesus, alguém a quem os discípulos obedeciam e acreditavam, como por exemplo aquilo que hoje podemos chamar de um líder de um partido político, que num jantar importante, saltava da mesa e começava a lavar os pés um a um aos seus lacaios.
Era algo épico não era?
Mas foi exactamente isso que Jesus fez. Jesus mostrou que a sua vida foi para servir e não para ser servido. Jesus mostrou que todos somos iguais e que ninguém se deve considerar superior a outro.
Hoje, não há ninguém que se dispusesse a fazer suas estas práticas de Jesus. É muito mais cómodo fazermos dele um deus sem rosto, sem sentimentos, só para ser adorado em dias e locais previamente estabelecidos.
Mas nesta iniciativa do lava pés, Jesus quis servir os seus 12 discípulos. Mostrou que eles também poderiam e deveriam fazer o mesmo, porque não são mais do que ninguém, mesmo aqueles que hierarquicamente podem estar numa posição inferior, mas na essência somos todos humanos, e é nesta qualidade que nos devemos relacionar.
E é este Jesus que eu admiro, esta pessoa pobre, por opção, que recusa até à morte exercer qualquer poder sobre alguém, que não quer privilégios nem mordomias. Este Jesus tão longe dos dias de hoje, em que só temos o poder, a humilhação do mais fraco, o salve-se quem poder, e a opressão, faz com que eu afirme que hoje ninguém se parece com Jesus.
Nem o líder da igreja católica se parece com Jesus. Ontem, ele deu uma de humildade e lavou os pés a 12 padres. Mas foi sol de pouca dura. Já que nos outros dias o papa domina, o papa tem poder, privilégio, é um todo poderoso, adorado e idolatrado pelas populações de todo o mundo.
Fora deste dia do lava pés, o papa é alguém que está num patamar superior, que não se junta com as pessoas, que não aceita estar na mesma condição que os restantes seres humanos.
Mas o papa, prefere uma vez num ano dar este espectáculo degradante, e no resto do ano continuar a ser o super-homem todo poderoso.
O papa seria um novo Jesus, se em vez de adoptar esta postura hipócrita e cómoda de lavar os pés, fosse todo o ano como Jesus, humilde, sem poder, sem regalias, sem privilégio. Mas está visto que o papa não concorda nada com a ideia de descer à terra.
Ou melhor, até concorda mas por uma hora apenas! Porque no resto do ano ele é um super-homem que não se sabe relacionar com o seu irmão como ser humano que é, e não mais do que isso.
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