Um euro e meio por lavar um prato, dois talheres e um copo.
A notícia pode ser considerada bizarra, mas merece que reflictamos nela, à luz desta crise grave que estamos a atravessar, e os limites que se podem ou não transpor, na relação entre cliente e vendedor, ou prestador de um serviço, como é o caso que vos vou relatar, e analisar.
A confeitaria do Bulhão, uma casa que serve diárias a quatro euros e meio, cobrou um euro e meio a uma cliente, porque ela quis dividir uma diária por duas pessoas, e por isso pediu mais um prato, dois talheres, um copo e um guardanapo.
Este facto, fez com que a cliente mostrasse a sua revolta na comunicação social, e como é óbvio, a maior parte das pessoas que comentaram este acontecimento, vieram em defesa da senhora.
Convém no entanto esmiuçar este caso com o devido distanciamento e a devida frieza, para percebermos as razões de parte a parte.
Em relação à cliente, creio que as motivações são óbvias. Se as duas pessoas que foram ao restaurante pedissem duas diárias teriam de pagar nove euros, assim por o preço de uma, comeram os dois.
Não sabendo nós a real situação económica da senhora, vou aceitar como razoável, que eles de facto vivem com problemas financeiros graves, e que apenas quiseram poupar quatro euros e meio, que logicamente lhes fariam imensa falta.
Se eu não colocasse a hipótese de estes dois seres humanos viverem com dificuldades, teria de condenar logo à partida esta atitude, que francamente seria de má fé, porque é do senso comum que as diárias são individuais! Em último recurso podíamos começar a pedir um café e duas chávenas!
Portanto, por uma questão humanitária, vou dar o benefício da dúvida ao casal.
Vejamos agora a posição do restaurante.
Em primeiro lugar, devo dizer que a gerência falhou num ponto essencial. Quando a cliente pediu o segundo prato, deveriam dizer-lhe logo que isso tinha um custo acrescido. Isso teria evitado esta situação altamente desagradável.
Uma vez que não informaram a cliente, é legítimo que ela se sinta indignada porque pensou pagar um valor, quando afinal teve de pagar outro. E em último recurso, ela podia nem ter dinheiro disponível!
Uma vez que não avisaram previamente, o mais sensato era dizer à cliente que agora lhe iam cobrar os quatro euros e meio, mas que para a próxima ela não poderia fazer assim, se quisesse dividir a dose teria de pagar mais euro e meio pelos talheres, prato e copo.
Porque o cerne da questão está aqui. Se a questão for, o restaurante pode ou não fazer isto? é óbvio que a resposta é afirmativa. Se a gerência fixa um preço para uma diária, não pode permitir que duas pessoas comam por o preço de uma, quando o lucro que o restaurante vai ter é muito inferior. Não só pela questão indirecta, ou seja, tendo em conta que são duas pessoas a almoçar, o restaurante tem a perspectiva de facturar nove euros neste caso, como na questão directa, porque o restaurante vai ter mais gastos que teria se fosse só uma pessoa a almoçar, e tem a mesma receita de uma só pessoa.
É preciso dizer, que por muito que nos custe, os restaurantes não são casas de caridade. É que se eles falirem, os beneficiados não têm pena dos gerentes. E todos sabemos que os custos de manutenção são bastante altos, e com franqueza cobrar um euro e meio por lavar talheres, um prato, um copo, um guardanapo, a utilização do espaço físico etc. Não me parece nada exagerado.
A única coisa que aqui falhou repito, foi o facto de o restaurante não ter avisado antecipadamente a sua cliente.
Fora isso, e apesar de compreender humanamente a situação da cliente, tenho de dizer que esta atitude do restaurante é inatacável, e ninguém pode pedir que os restaurantes se substituam às instituições de apoio social.
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