O Carnaval que não se vai gozar por causa de uma pura fantochada de Passos Coelho
Devo dizer que não sou um fã do Carnaval.
No entanto, reconheço a sua importância, e a relevância histórica que esta festa tem no nosso país. O Carnaval é o exemplo acabado da falta de definição que graça por estas bandas.
E digo isto porque nas últimas décadas o Carnaval sempre foi festejado com tolerância de ponto, excepto em 1993, quando o primeiro ministro de então Cavaco Silva, decidiu, numa manobra de puro fantoche político, não dar tolerância de ponto na terça feira de Carnaval.
Digo que foi um número de fantoche político, porque em 1994, Cavaco voltou a conceder tolerância de ponto. Significa isto que ele próprio reconheceu que estava errado porque corrigiu no ano seguinte.
Desta vez, Passos Coelho parece que está apostado em fazer o mesmo número, mas é desde logo uma atitude pouco inteligente, copiar algo que manifestamente foi mal feito.
Aquilo que ele ontem referiu, foi que ninguém compreendia que fossem retirados feriados civis e religiosos, e o governo desse tolerância de ponto no Carnaval, institucionalizando essa prática.
Discordo frontalmente desta ideia, e é pena que por uma questão tão fútil como esta, Passos Coelho continue a irritar e a afrontar as pessoas, estando sujeito a que a corda rebente a qualquer momento, e tenhamos convulsões sociais de todo indesejáveis.
Não está em causa de todo a festividade propriamente dita. O que se condena é o facto do primeiro ministro ter anunciado que não pretendia dar tolerância de ponto a quinze dias do Carnaval.
Ainda por cima, ele faz um anúncio, numa entrevista de rua, como se as pessoas adivinhassem que este ano, as excelências se lembraram de cortar com o passado. De facto a função pública é tratada como se os seus integrantes fossem meros bonecos, nas mãos dos caprichos dos senhores que por acaso nos governam.
Obviamente, todos estavam a contar com este dia, porque se nos últimos 20 anos ele foi concedido, nada o fazia prever que este ano fosse diferente, até porque nunca ninguém falou em retirar este dia, e como desde à muitos anos que os funcionários públicos não trabalham no Carnaval, se ninguém fala de nada, seria espectável que este ano sucedesse a mesma coisa.
E nesse sentido, muitos trabalhadores inclusive já tinham planeado fazer férias na Segunda Feira dia 20, aproveitando um fim de semana prolongado. Isso não será legítimo?
Devo dizer que independentemente da discussão que possamos ter à cerca da medida, é absolutamente compreensível que as pessoas se sintam revoltadas, desiludidas, e gozadas, porque ao ouvirem esta notícia duas semanas antes do Carnaval, e tendo em conta que este sempre foi um dia de festejo, como querem que as pessoas reajam? A história sempre nos diz que são estas atitudes simbólicas que fazem com que o copo transborde de vez. Dir-me-ão que é injusto, mas injusto ou não, é esta a nossa realidade.
E creio que todos estamos de acordo que Passos Coelho já tomou decisões mais nefastas para os portugueses, Mas esta é simbólica, faz com que as pessoas se sintam provocadas, e no meio desta irritação a paciência esgota-se, e nós sabemos o quan fundamental é ter a sociedade civil do lado do governo, para que o caminho se possa fazer o mais tranquilamente possível.
E o Primeiro Ministro está a ser muito pouco hábil, porque as pessoas até o estão a ajudar, tem assumido uma atitude pacífica aceitando os sacrifícios com pouca contestação, e com estas pequenas coisas, podem fartar-se de vez e começarem numa cruzada contra o Governo. Depois não vale apena apelar ao patriotismo.
E por outro lado, será que agora o Carnaval é uma espécie de bombom que se dá às pessoas? Num ano conced-se tolerância, noutro ano já não? Vamos cometer o mesmo erro que Cavaco?
E caso Passos Coelho arrisque ser um pouco mais coerente, vamos terminar agora com uma tradição que já tem dezenas e dezenas de anos?
E se somos tão rectos, tão rigorosos, eu pergunto. Se o Carnaval é fútil e não deve ser festejado no dia, o que dizer da Sexta Feira santa? Porque é que então não há a coragem para terminar com esse feriado que só os católicos, e mesmo esses quase não festejam?
É que o Carnaval representa uma afirmação de muitas cidades e vilas, que fazem desta época o ponto mais alto do ano. Inclusive, estou em crer que o Carnaval é uma das datas mais festejadas pela população, talvez ficando a perder apenas para o Natal. E a Sexta Feira Santa, que importância tem no panorama cultural do país?
Mais uma vez, Passos Coelho mostra ser forte com os fracos e fraco com os fortes. E isto, basta o povo perceber e começar a fazer frente, que este governo já não conseguirá ter mão na vontade popular.
Eu sei que o Carnaval pode ser festejado ao domingo. Mas é verdadeiramente inaceitável, e uma flagrante falta de respeito para Ovar, Torres Vedras, Mealhada, Loulé etc. retirar-lhes o dia mais importante que é a terça Feira, a duas semanas de tão importante evento, é uma falta de consideração repugnante, e fica a expectativa de saber se no próximo ano se vai festejar o Carnaval no próprio dia, ou se apenas no Domingo. E quando é que os concelhos saberão com que linhas se hão-de cozer? Será que a incerteza durará até à última?
Este papel que o governo está a desempenhar, é absolutamente ridículo e desnecessário.
Ninguém se convence que é por causa dos festejos do Carnaval que o país está em crise. Antes pelo contrário! O Carnaval gera receita, muita receita, fruto dos milhares de corsos espalhados pelo país, é sempre um motivo para as pessoas festejarem, ganharem ânimo para ultrapassarem estes tempos difíceis, e ao contrário da já citada Sexta Feira Santa, o Carnaval envolve muito mais a sociedade civil.
Foram cortados quatro feriados, três dias de férias, agora o Carnaval. Sinceramente, e digo isto com muita mágoa, não sei o que querem para o país? Mas assim não conseguem sequer cumprir o mandato, porque já começa a não haver paciência para vos aturar. Os portugueses são inteligentes, mostraram ser sensatos, e não devem ser tratados como um bando de mal feitores, de malandros, de irresponsáveis, de gente que não gosta de trabalhar. Pelo contrário! O português é trabalhador, compreende que se tenha de fazer sacrifícios, até está disposto a colaborar, mas não é burro nem estúpido, e sabe que o sucesso para sair da crise não é tirar, tirar, tirar!
Se impedem as pessoas de terem festa, de também desfrutarem do seu lazer, estamos a criar uma sociedade robotizada, e mais cedo ou mais tarde, as pessoas vão dizer basta, e nessa altura, não restará deste governo, pedra sobre pedra. Desejo sobre tudo que se possa arrepiar caminho, e já agora que se deixe cair enquanto é tempo esta ideia patética de impedir os festejos no dia de Carnaval.
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