quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Os funcionários da Caixa Geral de depósitos querem ser diferentes

Esta manifestação que ontem nos foi dada a conhecer dos funcionários da caixa, em que reivindicam o pagamento dos subsídios de férias e de natal, é verdadeiramente hilariante tanto no conteúdo como na forma.
Não deixa de ser caricato que os funcionários de um banco adoptem posturas como a de chamar Salazar e ladrão ao Ministro das finanças, gritando palavras de ordem como por exemplo “queremos que nos paguem”, e outras coisas dentro deste género.
Manifestações desta índole, eram até agora protagonizadas pelos trabalhadores mais humildes, mais explorados, e muitas vezes também pelos sindicatos, que umas vezes com razão, outras vezes sem ela, gostam de fazer o show off mediático, que as televisões, sedentas de espectáculo, absorvem sem pestanejar.
Não é que esta forma de se manifestar seja condenável. Mas o que fica provado é que quando se fala em dinheiro, e nos vão ao bolso somos todos iguais. E até os funcionários ligados directamente à banca que sempre viveram numa espécie de redoma de vidro, agora que são penalizados como o resto dos funcionários públicos, adoptam exactamente o mesmo tipo de manifestação que a “Raia Miúda” adopta quando, tal como sucede agora com os funcionários da Caixa, sentem que os responsáveis lhes estão a ir ao bolso.
O mais importante porém, é o conteúdo da manifestação. E a este respeito tenho de dizer que discordo frontalmente do mesmo, e entendo que os funcionários da Caixa não tem razão nenhuma.
O argumento que eventualmente pode parecer mais lógico, é o de que o dinheiro dos salários não vem do orçamento geral do estado, e que por paradoxal que pareça o governo até vai perder receita, porque se as pessoas não recebem os subsídios não vão pagar IRS desse valor.
Parece mas não é!
É que, embora isto seja verdade, o argumento não deixa de ser ridículo e demagógico.
É que não podemos ver este problema, só como uma mera questão matemática. Temos de o analisar de acordo com um princípio de igualdade entre todos. E isto para mim é muito importante. É que quando enchemos a boca para falar de paz social, temos de perceber que a mesma só pode existir quando os cidadãos entendem o que vai ser feito, quando há o mínimo de justiça na repartição dos sacrifícios, quando à uma política de cortes lógica, com critério, e não aleatória, onde quem berrar mais alto e tiver mais poder consegue safar-se sempre. É uma espécie de justiça para ricos e outra para pobres, que tanto tem estado em voga ultimamente.
Só que nós cidadãos não podemos de todo aceitar que isso aconteça. Se os cortes são para afectar a função pública, têm de ser para todos. Se até o Presidente da república e o primeiro-ministro ficam sem estes dois subsídios, não há razão nenhuma para que o mesmo não aconteça aos funcionários do banco do estado.
E apesar da habilidade deste argumento, o mesmo cai por terra, se tivermos em conta que as câmaras municipais por exemplo, estão impossibilitadas de pagar os subsídios aos seus funcionários mesmo que seja do seu próprio orçamento. E aqui estamos perante o mesmo princípio. Mas de facto ou pagam todos ou não paga ninguém, assim é que deve de ser.
Acho igualmente demagógico o argumento segundo o qual, os funcionários dos bancos privados vão receber os dois subsídios em causa, e que isso provoca desigualdade com os funcionários da Caixa. É um argumento inaceitável e ridículo.
Seguindo essa ordem de ideias, todos os funcionários públicos deveriam receber.
Os arquitectos que trabalham no público não recebem, os que trabalham no privado recebem! Os telefonistas que trabalham no público não recebem, os que trabalham no privado recebem! Os médicos, as empregadas de limpeza, em fim, toda a gente! Porque carga de água é que só devemos promover igualdade nos bancos? Então nos outros sectores de actividade, onde existe a mesma categoria profissional tanto no público como no privado, não é preciso igualarmos os direitos?
É por isso que eu digo que este discurso dos funcionários da Caixa é ridículo. Porque qualquer cidadão o desmonta com facilidade, e dá a ideia que estes senhores só por trabalharem num banco querem viver à margem da sociedade, e querem passar de fininho pelo meio desta tempestade de sacrifícios. Ora isso é absolutamente inaceitável.

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