quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Não devemos pagar a dívida, e estou-me marimbando para os banqueiros alemães. A demagogia no seu melhor.

Pedro Nuno Santos, deputado do PS, referiu de entre outras coisas que Portugal deve ameaçar não pagar as dívidas para que os credores nos ofereçam melhores condições para as pagar, que se estava marimbando para os banqueiros alemães, e outras coisas dentro deste estilo.
Pedro Nuno Santos, era para mim um ilustre desconhecido. Depois destas declarações fiquei a saber que o senhor é deputado da nação, e que até é vice[-presidente do grupo parlamentar do PS.
Esta intervenção foi feita num jantar de natal com militantes socialistas em Castelo de Paiva.
Que a nossa nação tem deputados demagógicos e irresponsáveis, não é novidade. Mas como se costuma dizer, há deputados e deputados! Uma coisa são aqueles que não fazem parte dos partidos do arco da governação, que desde o início se colocaram de fora deste acordo com a troica, outra coisa são os deputados de PS, PSD e PP que têm ou já tiveram responsabilidades governativas.
Não podemos encarar a nossa actividade política como um filme, que nos permita desempenhar várias personagens, consoante o nosso interesse e motivação.
Também sabemos que Castelo de Paiva é uma excelente zona vinícola, e isso faz com que muitas vezes se inflame o discurso, mas desde já advirto que ao adoptarmos estes comportamentos de risco, para além do discurso, podemos inflamar outras coisas bem mais graves, como por exemplo o fígado.
Creio que este tipo de discurso é altamente demagógico, e inaceitável, na boca de um deputado que sonha vir a governar o país. Se ele se está a marimbar para os banqueiros alemães, não é que eu tenha especial atracção por esses personagens, mas ficaria imensamente agastado se eles também se estivessem a marimbar para nós, e nos ameaçassem que não nos davam mais dinheiro, para que nós desatássemos aí a despedir funcionários públicos, cortar ainda mais salários etc.
É que segundo ficamos a saber, essa é a receita que alguns iluminados defendem que deve ser adoptada pela Grécia.
E nós nas nossas vidas, se tivermos alguém que não nos pague a tempo e horas, certamente não iremos cair na asneira de lhe voltar a emprestar dinheiro, para voltarmos a ficar a arder!
É bem verdade que o mais importante são as pessoas, mas penso que é o cúmulo da demagogia, dizer que são os banqueiros alemães que nos obrigaram a fazer estradas que agora não podemos pagar, que protagonizaram estas roubalheiras como o BPN e o BPP, que nos obrigaram a endividar e a não aplicar esses dividendos na economia, assumindo prioridades de todo criticáveis, etc.
É muito simples dizer-se para não se pagar. Esse tipo de comportamento é aliás típico dos charlatães, que costumam pedir emprestado, assumirem os compromissos e depois não os cumprirem.
Mas este discurso, vindo de quem vem, é francamente estranho. Dava tudo para saber, se em Maio, quando o PS, pediu ajuda internacional, este senhor Pedro Nuno Santos, já pensava que não se devia pagar a dívida.
Mas tão ou mais grave, é o facto de à posteriori, o líder do grupo parlamentar Carlos Zorrinho ter colocado paninhos quentes nesta declaração do deputado Pedro Nuno Santos, chegando até a dar-lhe o seu apoio.
Neste caso a pergunta é a mesma. Será que o senhor doutor Carlos Zorrinho também acha que não se deve pagar a dívida? E em Maio deste ano, também era da mesma opinião?
Pelo que temos podido ler nas entrelinhas, este discurso acaba por ser partilhado em surdina por muita gente com responsabilidade política que actualmente não está no governo.
E isto é grave, porque no contexto actual, todos sabemos que não há outra alternativa que não seja a de respeitar os compromissos assumidos.
É muito fácil dizer às pessoas para se marimbarem para os banqueiros alemães. É muito fácil dizer para se continuar a gastar à vontade, para se viver acima das possibilidades, para guerrilhar contra quem quer impor sacrifícios. Tudo isto é um caminho francamente simplista. Mas este não é um comportamento nem sério nem responsável, e independentemente das cores políticas que cada um tenha, desculpem mas não posso pactuar com este tipo de intervenções demagógicas, populistas, irrealistas e permitam-me dizer-vos cínicas, na medida em que apenas querem fazer oportunismo político.

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