quarta-feira, 7 de setembro de 2011

um apelo à calma e à serenidade

Nos últimos dias, o espectro de tumulto social pairou no ar, e os nossos actores políticos e afins infelizmente muito contribuíram para isso.
Pedro Passos Coelho foi em minha opinião infeliz ao insinuar com a repressão a manifestações mais acaloradas.
Não era preciso trazer este dado novo para a discussão. Se vivemos num estado de direito, é óbvio que qualquer comportamento que esteja fora da lei, e que interfira com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, deve ser punido pelas autoridades. E nem sequer é o governo que em primeira instância vai punir ou reprimir esses pseudo desordeiros. As forças policiais t
em autonomia bastante para fazerem cumprir a lei, e não precisam das ordens do primeiro-ministro.
Esta ideia que o poder político pode pôr e dispor da autoridade como lhe convier, é muito perigosa e vai em sentido contrário ao que defende a nossa constituição, que é uma separação de poderes.
Sabemos que essa separação na prática nunca existiu, mas se Passos Coelho quer ser diferente, não é com palavras, mas sim com gestos e atitudes.
Se Passos Coelho queria fazer um discurso preventivo relativamente à agitação social tinha vários caminhos.
O caminho mais correcto era apelar clara e firmemente à serenidade, sem ameaçar com repressão.
E creio que esta tem sido uma falha grave de todos os agentes políticos. O governo que como já vimos ameaça as pessoas, tentando transmitir-lhes medo. E os parceiros sociais que também não nos trouxeram um discurso minimamente responsável. Tiveram razão em criticar o discurso de Passos Coelho, mas depois deixaram um conjunto de pontas soltas, quase que legitimando a rebelião popular, afirmando uma coisa ainda mais demagógica e hipócrita, segundo a qual, as centrais sindicais nada terão haver com possíveis manifestações de cariz mais radical.
Vamos partir do princípio que um grupo organizado de cidadãos, decide espalhar violência pelo país.
O que se vai ganhar?
As reivindicações desses manifestantes seriam cumpridas?
Se o país não tem recursos, como se podiam satisfazer as legítimas pretensões dos manifestantes?
O que os gregos ganharam com as manifestações tumultuosas?
A esta última pergunta, acrescento uma ideia. Os gregos não só não ganharam nada, como perderam ainda mais. Porque se atrasaram no cumprimento do plano de austeridade, ficaram descredibilizados perante os seus parceiros, destruiu-se muita coisa, estagnou-se ainda mais a economia Grega, e pior do que isso, a partir daqui, o poder político tem um argumento de peso para prolongar este estado de coisas durante muito mais tempo.
E o argumento é simples. Se da parte dos gregos não houvessem estas manifestações, o plano já estava quase concluído. Assim, como houveram estes anos de estagnação, vai ser preciso fazer um esforço extra para compensar o tempo perdido.
Temos ainda outra questão que é imperioso ser feita. Mas afinal qual é, ou quais são os modelos alternativos?
Francisco Louçã já falou em renegociar a dívida. Mas será que nas condições actuais isso é possível?
Um país que deve dinheiro, que não aceita cumprir um plano de austeridade, que poder negocial esse país tem para junto com os devedores tentar pagar as respectivas dívidas durante mais tempo, e com uma taxa de juro mais baixa?
Creio que Portugal só poderia enveredar por este caminho a partir do momento em que desse provas que queria corrigir os erros que cometeu ao longo dos últimos anos.
Vamos transportar isto para um exemplo corriqueiro das nossas vidas.
Um vizinho devíanos dinheiro. Entretanto, esse vizinho não queria trabalhar, e comprava roupa de marca, telemóveis e computadores topo de gama etc.
Um dia, ele vinha à nossa procura para pedir mais tempo para saldar da dívida.
Qual seria a nossa reacção? Então o sujeito tem dinheiro para comprar coisas tão supérfluas como computadores e telemóveis topo de Gama, e agora não tem dinheiro para pagar o que me deve?
No fundo foi o que Portugal fez durante os últimos anos. Pediu dinheiro a meio mundo para realizar obras e despesas, muitas delas altamente discutíveis, e agora se não quisesse emendar a mão e arrepiar caminho, teria alguma credibilidade junto dos credores?
A mim não me parece.
O que eu acho é que nesta fase, a única alternativa que nos resta é mesmo corrigir o que está mal feito do passado, deixar de olhar tanto para o nosso umbigo e tentar ser o mais justo possível independentemente do partido em causa, e em suma contribuir com o que cada um poder para ajudar este grande país a resolver os seus problemas financeiros.
Nesta altura em que tudo parece estar muito agitado e nervoso, à espera de algo que acenda definitivamente o rastilho e comece a agitação social, creio que é muito importante um discurso de acalmia, de serenidade, essencialmente um discurso coerente e construtivo.
Eu sei que a opinião corrente não vai neste sentido. Mas se pensarmos bem, vamos verificar que no passado foram cometidos imensos erros, a nossa economia perdeu competitividade, a despesa aumentou exponencialmente, e mais cedo ou mais tarde as finanças públicas iam entrar em ruptura. Se agora, em vez de encararmos de frente o problema, decidirmos assobiar para o lado, ou então ir para a rua reivindicar algo que não pode neste momento ser dado, estamos claramente a adiar o problema e não a resolver.
Por isso eu creio que é preciso que todos tenhamos calma, Portugal sempre soube vencer as dificuldades, e tenho um pressentimento que desta vez vamos vencer, mas com a ajuda de todos.
E é preciso ter a coragem para apelar à serenidade e à calma, porque só assim conseguimos melhorar a nossa competitividade.

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