Estou contra o facto de os desempregados poderem trabalhar em empresas privadas.
Durante a Campanha eleitoral, Paulo Portas por diversas vezes deixou escapar a sua preocupação pelo facto de os desempregados estarem sem produzirem coisa nenhuma.
Na verdade, eu percebo esta preocupação, porque uma pessoa que está desempregada, pode continuar a fazer algo, até porque quando essa mesma pessoa fica em casa dia após dia sem objectivos de vida, acaba por criar vícios terríveis, que a desmotivam a procurar emprego, em suma a sair desta situação que supostamente será transitória.
Por isso não alinho nada com aqueles argumentos demagógicos de esquerda, que defendem que os desempregados não podem trabalhar, porque se o fizerem estão a ser explorados.
Mas neste fim de semana, Francisco Louçã veio falar de uma forma muito indignada, pelo facto de o governo estar a estudar a possibilidade de obrigar pessoas desempregadas a trabalharem em empresas privadas.
Naturalmente, a empresa pagaria uma parte do subsídio de desemprego, de outra forma não podia ser!
Não conhecendo muitos pormenores desta possibilidade, quero desde já dizer que de todo não concordo com ela, e merece o mais veemente repúdio.
Se a ideia fosse fazer com que os beneficiários do subsídio de desemprego tivessem de ser úteis à sociedade, com certeza que haviam muitas áreas em que eles podiam desempenhar papeis relevantes, designadamente fazendo o chamado trabalho comunitário.
Mesmo neste particular, acho que as coisas devem ser muito bem pensadas, porque, apesar de a mim não me repugnar nada que uma pessoa que esteja a auferir o subsídio de desemprego tenha também de contribuir com algo, um desempregado não pode ser visto como um larápio, um preguiçoso, alguém que não trabalha porque não quer.
Temos de dar dignidade às pessoas, e uma coisa que deve ser logo resolvida é o facto de estar salvaguardada a actividade profissional que a pessoa exercia antes de ficar desempregada.
Mas quando se fala em trabalhar em empresas privadas, mesmo que o estado até poupasse uma parte do subsídio de desemprego, aí o caso muda de figura.
Creio que aí estamos a entrar quase que na escravatura. Uma empresa punha e dispunha do trabalhador como quisesse, e como lhe desse jeito! Se fosse necessário trabalhar 15 horas por semana, trabalhava, se fossem só 10, 20 etc. o mesmo sucederia.
Ora, isso não é digno para a pessoa. Se uma empresa precisa de mão de obra que recorra aos trâmites normais que é a contratação de pessoal.
Porque se não o faz, poderá andar toda a vida a recorrer a estes esquemas, e então aí é que temos os funcionários descartáveis, aqueles que literalmente se usam e deitam fora.
Se entrarmos por estas parcerias entre empresas privadas e Centros de Emprego, vamos precarizar ainda mais o trabalho, e fazer com que um trabalhador esteja nesta insegurança de ter de trabalhar para uma empresa enquanto não o quiserem descartar, mas de não ter nenhuma perspectiva para o seu futuro.
De nada valem as políticas económicas se não forem feitas e executadas a pensar nas pessoas. Elas são a essência de tudo, e muitas vezes vejo com grande desagrado que o que conta são números, e as pessoas pouco ou nada interessam.
Esta selvajaria preocupa-me, porque se até agora temos tido paz social, nada nos garante, que se continuarmos a afrontar os mais desfavorecidos, se fizermos com que a pobreza seja cada vez maior, não possamos correr o risco de criar convolução social, e comprometer irremediavelmente a reestruturação que todos sabemos, temos de fazer.
E esta medida, creio que afronta a dignidade de uma parte significativa dos mais desfavorecidos da nossa sociedade, que são os desempregados.
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