Quero viver muito mais tempo.
Uma das minhas máximas enquanto leigo em medicina era a de que nós, enquanto seres humanos vivemos francamente pouco tempo.
Se tivermos em conta que temos outras espécies animais que têm uma esperança média de vida maior do que a nossa, só me posso roer de inveja. E tenho vários motivos para isso.
O principal é que eu gosto muito da vida, adoro viver, acho que as capacidades que a natureza dá ao ser humano são absolutamente fantásticas. A capacidade de raciocinar, de pensar, de poder decidir a nossa história, de tomar parte no desenvolvimento material, humano e afectivo do planeta, é algo absolutamente incrível.
E se temos todas estas potencialidades, se até podemos para o mal decidir neste momento terminar com o planeta, coisa que mais nenhum animal consegue, porque é que vivemos tão pouco?
Por outro lado o homem é quem desenvolve a medicina, ou seja, a capacidade de corar a si próprio e também aos restantes animais.
Temos portanto tudo na mão para podermos ser mais generosos para as nossas gerações vindouras, e dar-lhes a possibilidade de eles viverem mais tempo do que nós vivemos actualmente.
Tinha tudo isso na cabeça, até que ouvi uma entrevista de um proeminente cientista português, pessoa que muito admiro e que reconheço, que é dotado de uma enorme inteligência e saber, que afirma que afinal actualmente até já vivemos mais do que devíamos!
Nem mais, eu que pensava que vivia pouco, fiquei a saber que afinal já vivo de mais!
E o dramático em tudo isto é que o Doutor Manuel Sobrinho Simões está infelizmente cheio de razão naquilo que diz.
Ou seja, a nossa medicina está preparada para por exemplo transplantar órgãos, até desenvolvê-los através da reprodução artificial, mas depois falta um passo importante e que faz toda a diferença.
Estamos a dar ao ser humano órgãos novos, fazendo com que vivamos mais tempo, mas esquecemo-nos do cérebro. E aí é que as coisas empancam, terrível e dramaticamente.
É como se num carro trocássemos todos os componentes, mas depois mantivéssemos o mais importante que é o motor.
Ou seja, temos um idoso com um coração invejável, um fígado saudável, mas depois a parte motora, intelectual, cognitiva, etc., está velha. Logo estamos a criar um ser humano infeliz, que tem a sua vida assegurada, mas está muito longe de assegurar a qualidade que ele tem direito.
Em português corrente, diria que a cabeça não acompanha as pernas, e como consequência não estamos no meu ponto de vista a garantir às pessoas uma boa vida.
Como eu gostava que futuramente esta tese do Professor Manuel Sobrinho Simões estivesse errada.
Era bom que o homem pudesse viver durante duzentos anos. Nós temos tudo. Temos inteligência, podemos e devemos ter sapiência, cultura, respeito por todos os animais. Podemos e devemos ser racionais, e integrar todas as espécies no nosso planeta, e sermos apenas mais uma, um pouco mais evoluída é certo, mas sermos só uma espécie.
O pior é que dizem que já evoluímos muito, e alguns imagine-se até defendem que já não temos mais futuro e que até poderão vir por aí o fim dos tempos.
Que desgraça!
Como se pode dizer que evoluímos tudo se ainda continuamos a morrer de morte súbita? Como podemos dizer que já evoluímos tudo se ainda não conseguimos encontrar alternativas para que todos vivam mais ou menos o mesmo tempo, ou seja para que a longevidade seja ela democrática?
Como é possível que existam semelhantes meus que morrem através de acidentes tão estúpidos, de viação, trabalho e outros?
Como podemos dizer que evoluímos muito se ainda temos tantos seres humanos infelizes?
Como podemos dizer que o ser humano já está no términos da sua criação, se ainda temos tantos pobres, tantos excluídos, e ainda não nos conseguimos integrar verdadeiramente com as restantes espécies animais?
Ainda temos tanto que evoluir! Parem com as teorias apocalípticas, deixem em paz as lutas, as guerrinhas, os jogos de interesses, a ganância, vamos construir a verdadeira humanidade!
E clinicamente falando. Façam lá um favor. Ajudem a que o homem viva mais tempo, com mais saúde física, psíquica e mental. Mais harmonia, e em suma, mais felicidade.
É isto que eu quero.
E por Favor Manuel Sobrinho Simões, não me traumatize, eu queria viver mesmo muito mais tempo.
1 comentário:
Amei seu texto, abraços
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