sábado, 22 de janeiro de 2011

O dia de reflecção

Estou a escrever este texto de opinião exactamente no dia 22 de Janeiro, um Sábado, véspera de mais um acto eleitoral, para eleger o Presidente da República para os próximos cinco anos.
Depois de 13 dias de campanha eleitoral intensa, nem sempre bem discutida, onde prevaleceram demasiado as questões pessoais, em vez das ideológicas, aqui estamos no dia consagrado para a reflexão, onde é oficialmente proibido falar de política, na comunicação social não podemos sequer pronunciar a palavra presidenciais, nem muito menos fazer referência directa ou indirecta ao nome de qualquer um dos candidatos.
Este dia de reflexão foi instituído imediatamente depois do vinte e cinco de Abril, porque na altura o país vinha de quarenta e oito anos de ditadura, e a democracia estava a dar os primeiros passos.
A questão é muito pertinente, e deve ser discutida depois deste acto eleitoral.
Nos dias de hoje faz sentido haver um dia de reflexão?
Tem lógica andarmos semanas a fio a levar diariamente com as eleições presidenciais, e assim de repente, isto é, à meia noite de Sexta para Sábado tudo se cala, como se a população no seu todo fosse um grupo de criancinhas, que têm de ter esse dia para pensar?
No meu ponto de vista, digo claramente que nada disto faz sentido.
Defendo que no dia de hoje a campanha deveria decorrer normalmente, que a comunicação social poderia continuar a dar eco às eleições, e entendo que isso não prejudicava nem desvirtuava em nada a democracia.
Porque hoje, quem pretender falar das eleições presidenciais, pode fazê-lo no café, em casa, em encontros mais ou menos restritos, e não é por causa de termos um dia de reflexão que o vamos deixar de fazer, visto que somos pessoas adultas, sabemos bem o que está em causa, e não precisamos que nos tratem de dementes, fechando-os no silêncio, supostamente para reflectirmos à cerca da nossa escolha, como se alguém aproveitasse o dia de hoje para pensar nisso, numa perspectiva de fazer um balanço da campanha eleitoral, e em resultado desse balanço definir o seu sentido de voto.
Escandalizaría-me muito menos se fosse proibido veicular sondagens na última semana antes das eleições, do que propriamente terminar com este dia de reflexão.
As sondagens sim, são um mal para a democracia.
Primeiro porque ao contrário do que dizem falham várias vezes, e aqui temos de ter em conta que não está em causa encontrar só o vencedor ou vencedores do acto eleitoral, mas também a distribuição dos resultados pelas restantes forças políticas em disputa. Numas eleições legislativas, isso faz toda a diferença. Para um partido, ter dez por cento, ou ter doze ou treze por cento não é de todo a mesma coisa. E aí as sondagens são muito pouco rigorosas.
E o mais grave é que isso vai influenciar não só os eleitores, como também o próprio decurso da campanha, é que quer se queira quer não, ninguém vive isolado numa ilha, e consequentemente ninguém está imune às sondagens.
Creio que antigamente estava bem melhor, assim as forças políticas, ou neste caso os candidatos presidenciais fariam a sua campanha tranquilamente na última semana, e não se preocupavam com dezenas de sondagens que vêm a lume diariamente, algumas como disse muito pouco rigorosas, de qualidade e alcance altamente duvidosos.
E isso sim enfraquece a democracia, porque influencia o resultado final. Aí alguns partidos têm razão para reclamar, e é algo que deveria ser revisto.
Mas como os partidos que regra geral são favorecidos pelas sondagens são os que obtêm mais votos, não me acredito muito que algo vá mudar!
Mas é pena.

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