quinta-feira, 25 de abril de 2019

Há 45 anos foi o dia mais lindo

É com profunda emoção que celebro todos os anos o dia mais lindo. Fico embriagado de ternura e de comoção cada vez que me deixo embrenhar nas histórias de vida, contadas na primeira pessoa, de muitos amigos meus que ajudaram a derrubar um regime ditatorial, repressivo, velho a cair de podre, e curvo-me de assombro ante aqueles corajosos que aceitaram pagar com a carne e o sangue o preço da liberdade. O país deve muito a estes heróis, alguns tenho a graça de conhecer pessoalmente, e para todos vai o meu sincero e sentido abraço, e um muito obrigado por tudo, e só vos posso dizer que não me canso de Abril, do sonho e da utopia! Hoje deixem-me desassossegar por uma pergunta que me bateu assim de chofre e deixou-me completamente mudo. Daqui a 5 anos quem vão ser aqueles que de viva voz nos vão ajudar a celebrar Abril e testemunhar na primeira pessoa a revolução que ficou por fazer? 50 anos. É muito tempo, e por isso, temos a obrigação moral de passar para os nossos filhos e os nossos netos os ideais de Abril, as cantigas e os poemas que ajudaram a conquistar a democracia. Os eternos heróis mártires da ditadura que nunca por nunca podemos apagar da história. Que Abril seja na nossa memória colectiva recordado como um acontecimento de enorme bravura, coragem e audácia de um punhado de compatriotas que derrubou um regime de quase 50 anos e que se propôs construir um país mais justo, mais fraterno e livre. Que estes ideais perdurem durante muitas décadas e muitos séculos, e que consigamos resistir com todas as forças aos avanços dos populismos que neste tempo histórico empestam muitas democracias, e que felizmente temos conseguido manter o mais longe possível. Que nunca nos esqueçamos que foi graças às ideias fáceis que entramos na ditadura, um dos períodos mais negros da nossa história. Quando sou interpelado a olhar para o futuro, vejo a necessidade de continuar a alimentar a nossa sociedade de justiça, de educação, de paz, de saúde, de pão e de habitação, porque por muito tempo que passe, estes continuam a ser os pilares fundamentais da democracia.

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