terça-feira, 26 de junho de 2018

O encómodo do processo Casa Pia

Estamos tão inebriados com a selecção e com o Sporting que até nos passa ao lado uma das situações que mais nos devia incomodar, que é o processo Casa Pia. Todos sabemos que este foi o primeiro grande mega processo que tivemos em Portugal, e a experiência foi a meu ver altamente negativa. Há duas semanas, Paulo Pedroso viu o tribunal europeu dos direitos humanos reconhecer que ele esteve preso injustamente. Hoje o mesmo tribunal veio dizer que o julgamento de Carlos Cruz e de João Ferreira Dinis não decorreu como devia ser, desde logo porque o tribunal rejeitou novas provas dos acusados. Já passaram vários anos, a verdade é que para o bem e para o mal, este processo destruiu parte da carreira política de Paulo Pedroso que era um dos mais promissores quadros do Ps de então, e destruiu por completo a carreira do Carlos Cruz, o senhor televisão, um dos maiores, senão mesmo o maior comunicador de sempre da nossa história. Obviamente que não é o talento das pessoas que vai fazer com que elas sejam culpadas ou inocentadas. Mas neste caso em concreto, sabe-se que houve uma altura em que se pensou que muitos poderosos eram pedófilos, e que ela estava generalizada na alta sociedade. O próprio Herman José ter-se-á livrado de complicações porque na altura em que alguém o terá acusado conseguiu provar que estava no Brasil. Tenho as minhas convicções, tenho a humildade para reconhecer que são apenas isso, convicções e que já mais elas podem valer de lei. Mas confesso que enquanto cidadão é para mim difícil ter confiança num julgamento como este, com sucessivas derrotas no tribunal europeu dos direitos do homem. Para quem esteja menos atento, estamos a falar de um tribunal que nada tem que ver com Portugal. É difícil ter confiança num julgamento que desde início ficou marcado pela fraca solidez testemunhal, com casos em que mais tarde se veio a reconhecer que houve manipulação e muito dinheiro envolvido. Ainda dentro do âmbito da pura convicção, é também difícil não acreditar que não tenham mesmo havido pedófilos. Se perante a identificação desta realidade foram realmente condenados os verdadeiros culpados? Essa é a pergunta chave que está no centro destas decisões do tribunal europeu dos direitos do homem. E agora, as consequências? Os condenados, legitimamente farão valer os seus direitos, e uma justiça na verdadeira ascensão da palavra tanto condena como absolve.

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