quarta-feira, 16 de maio de 2018

O choque e o horror com o ataque a Alcochete

Há muitos meses que não ficava uma hora especado em frente à tv como fiquei ontem. E como adepto do futebol devo dizer que estou absolutamente chocado com este atentado terrorista, e creio que foram passados todos os limites. Para isto acabe-se com o futebol! É evidente que este é um caso de polícia, é lógico que a violência infelizmente não se cinge apenas ao futebol, mas este caso tem contornos muito particulares e muito estranhos, e isto deve ser dito claramente. Tive oportunidade de acompanhar o discurso de Bruno de Carvalho à Sporting Tv. Um discurso frio, gélido, completamente distante do que estava a acontecer, verdadeiramente paradoxal esta postura porque ele ao longo deste tempo tem sido o presidente adepto, o homem das emoções, que é capaz de saltar e gritar com um golo, com uma vitória, que é capaz de se enervar e barafustar com uma derrota, e num caso destes não é capaz de deixar transparecer um pingo de Emoção. a meu ver é muito estranha esta atitude, devo confessar, tanto mais que se o mais chocante é o facto de nem o presidente nem nenhum dirigente ter estado ao lado dos jogadores na apresentação das queixas às autoridades, nem qualquer outra manifestação pública de apoio. É arrepiante esta ausência! Essa estranheza amplifica-se ainda mais com algumas frases que ele referiu, e que garanto não foram retiradas fora do contexto. Utilizar o termo "é chato" para uma situação com esta gravidade, é inacreditável. Mas o pior foi quando ele referiu que temos de aprender a viver com o Crime, que faz parte da vida. O que ele se esqueceu de dizer foi que um crime como este nunca tinha acontecido. Será que ele acha que agora sim eles vão começar a surgir em catadupa e está a prevenir os jogadores e equipa técnica do Sporting para se habituarem? Também não posso deixar de pegar nas declarações de Vera Ribeiro, uma figura pública que é a mulher do Rui Patrício, e que afirmou no seu Facebook algo intrigante. Os que orientaram estes e outros actos deviam meter a mão na consciência. Reitero, ela disse outros actos, e a verdade é que todos sabem, é público que o Sporting está a viver uma guerra civil. E convocar a equipa técnica, os jogadores, para uma reunião em que foram anunciadas profundas mudanças, a uma semana do jogo da final da Taça de Portugal é mesmo de quem não quer saber dos interesses do Sporting para nada, e apenas seguir uma postura de guerrilha pura. Eu sei que isso são assuntos internos do Sporting, mas as atitudes do seu presidente, que deveria ser a pessoa mais equilibrada, aquela que devia estar incondicionalmente ao lado da equipa, acabam por se repercutir no tal clima de guerra civil que se está a viver no Sporting, algo sem precedentes, pelo menos na história mais recente. Admito que Bruno de Carvalho não quisesse nem previsse um desfecho com esta gravidade, mas nem o melhor agricultor depois de cultivar o seu campo tem total controlo da colheita que vai ter,. E neste caso estamos a falar de um agricultor que deixou os campos todos a monte, e claro perante uma postura destas, só poderia colher mato e silvado. Também temos de ter a honestidade intelectual para reconhecer que não é só por se afastar Bruno de Carvalho que se resolve o problema da violência no futebol. Já há muito tempo que é praticamente impossível levar uma família a um estádio, uma criança então nem pensar. Já há muito tempo que existem sinais preocupantes e os responsáveis têm assobiado para o lado. Temos de actuar em várias frentes. Primeiro ser absolutamente implacáveis com os discursos incendiários. Depois começar a olhar com olhos de ver o problema das claques e perceber se é isso que queremos para o nosso futebol. Eu sinceramente entendo que não, e acho que as claques deveriam ser autorizadas pelos clubes, ter um número máximo de pessoas. É preferível mais claques com coreografias e formas de apoiar diferentes, do que claques gigantescas que servem para praticamente tudo menos para o seu nobre propósito que é apoiar o seu clube. Toda a gente sabe a vergonha que se passa nos estádios, basta irem com câmaras para as caixas de segurança e vê o que se lá passa, e percebem que isso não tem nada que ver com o futebol, com o jogo, com o apoio à equipa. Os clubes têm de ser muito mais responsabilizados pelas claques, porque não podem por uma questão quase que jurídica e política dizer que não apoiam claques e depois concederem acesso privilegiado aos estádios etc. A polícia sabe perfeitamente quem são as claques, e é preciso começar a criar a lista negra do adepto e proibir essa malta de ir aos estádios e obrigá-los a verem os jogos na esquadra como se fazem com os animais raivosos. Mas neste caso o tipo de tratamento não pode ser diferente. Há muito a fazer, e não podemos ficar com a ideia que isto foi um caso isolado. Admito que este caso é muito particular, tem muito que ver com a situação actual do Sporting e a postura dos seus responsáveis, mas a violência em si é sistémica e tem de ser atacada de frente, ainda que tenhamos de aproveitar este exemplo altamente infeliz.

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