40 horas semanais - uma Aberração idiológica
Hoje é dia em que se fala novamente da carga laboral na função pública, 35 versos 40 horas. Antes de mais considerandos, quero deixar bem vincados 2 pontos, que são a minha declaração de interesses. 1. Não sou funcionário público; 2. Sou voluntário em diversos projectos, que me ocupam muito mais do que as 8 horas diárias de trabalho, e não me arrependo do tempo que decidi despender, sem usufruir de qualquer retribuição monetária. Posto isto, e considerando como perfeitamente ridículo o argumento que defende que mais uma hora de trabalho só dá prejuízo à entidade, porque se gasta mais luz e outras despesas de funcionamento, já não poderei ser tão taxativo relativamente ao argumento que sustenta que uma hora a mais por dia não corresponde a mais produção; Tecnicamente, admito que este argumento é falacioso, porque uma hora por dia terá de corresponder a uma maior produtividade do colaborador. Mas quando vamos relacionar isso com o grau de satisfação e consequentemente com os níveis motivacionais, a conclusão pode não ser assim tão evidente, porque estamos perante uma degradação da qualidade de vida dos funcionários públicos. Por isso, não posso deixar de dizer que estou contra o aumento da carga laboral, por duas razões fundamentais. A primeira, é que estamos perante um claro retrocesso civilizacional. Numa altura em que tanto se fala da harmonia que deve existir entre a pessoa e as actividades profissionais por si desempenhadas, não faz sentido que, a pretexto de uma tendência ideológica, e atenção que é disto que se trata e não uma pseudo igualdade entre público e privado, se obriguem pessoas a trabalhar mais 33 dias num ano, que ainda por cima se lhes cortem férias, e feriados. É um menu completo, uma cultura achinesada no seu esplendor. A segunda razão que me faz contestar esta medida tem haver com uma questão de justiça. Não se justifica que um conjunto de cidadãos que sofreram na pele tantos cortes e outros constrangimentos, ainda sejam obrigados a trabalhar mais uma hora por dia, a pretexto de muito pouco. Muitas medidas que foram tomadas nos últimos anos aceitam-se tendo em conta o estado de emergência a que chegamos. Numa altura de crise económica não se podem pagar os mesmos salários, não é possível fazer com que os trabalhadores tenham o mesmo rendimento disponível que tinham antes desta conjuntura. Mas é precisamente por esta razão que esta medida é errada. Já que se retiraram rendimentos aos trabalhadores, não se lhes devia aumentar o número de horas de trabalho. Isto diz-me o mais elementar bom censo. No privado, muita gente trabalha bem mais que as 8 horas diárias. Mas também temos por outro lado o reverso da medalha. Muitos ganham no privado bem mais que no público, isto obviamente comparando funções similares. E no privado as carreiras não estão congeladas. E o cerne da questão é precisamente este, e resume-se em duas ideias chave. Nunca se vai conseguir uma igualdade entre público e privado, a não ser que deixe de haver serviços públicos. E se por um lado se compreende que o estado não possa pagar tanto como pagava, o mesmo não se pode dizer com estas medidas que não trazem grandes benefícios económicos, e que são objectivamente contra os trabalhadores, porque os prejudicam injustificadamente.
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