Fernando Nobre e a Hipocrisia de quem o assassinou politicamente.
Por estes dias, Fernando Nobre é o patinho feio da política portuguesa.
Aqueles que criticam a classe política por não se renovar, que defendem que os deputados só lá chegam porque são amigos dos responsáveis partidários, e que estes quando fazem as listas, preocupam-se mais em dar oportunidade aos amigos, do que em escolher as pessoas pelos seus méritos e qualidades, são exactamente os mesmos que agora criticaram desde o início a escolha que o Psd fez, de Fernando nobre para cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Lisboa.
Podia trazer à coacção imensos comentários feitos por comentadores, politólogos, bloggers, articulistas, cronistas, e jornalistas. O que prova que infelizmente a partidaríte aguda não foi abolida do nosso ser viver actuar, e que a tal independência que muitos clamam, é uma independência de fachada, porque continuam agarrados ao sistema, e quem ousar ir contra esse sistema que eles próprios tanto criticam, é imediatamente aniquilado.
É um paradoxo, não é?
Primeiro, criticam o sistema que está velho e gasto, e depois, as mesmas pessoas mostram relutância contra todo o tipo de renovação, até, imagine-se, contra o primeiro-ministro e alguns ministros deste Governo, que são acusados de não terem experiência política.
Naturalmente, que estas críticas são meramente circunstanciais, até porque como é óbvio, a competência das pessoas não se mede pelos cargos políticos mais ou menos mediáticos que desempenharam.
Mas em relação a Fernando Nobre, creio que a rejeição, advém de factores muito mais graves.
A razão pela qual muitos políticos, e outros que gravitam em torno da política detestam Fernando Nobre, prende-se com a candidatura que ele protagonizou às últimas eleições presidenciais.
Os adeptos do sistema não lhe perdoam que ele tenha conseguido quase quinhentos mil votos, e que tenha vindo da sociedade civil. Foi digamos que um abanão que os partidos sofreram, porque não é nada confortável, perceberem que um candidato que nunca foi político, tenha conseguido ombrear com os chamados profissionais da política.
Mas vejamos então o que Fernando Nobre fez depois dessa candidatura.
Decidiu candidatar-se a deputado pelo Psd, nas listas de Lisboa.
A questão é que ele afirmou explicitamente que só aceitaria ficar se fosse presidente da Assembleia da República.
Perante esta sua declaração, muitos dos tais aficionados do sistema desataram num coro de protestos, acusando de falta de democracia, de sentido de estado, de querer o poder a todo o custo, e de nunca até agora ninguém ter feito semelhante exigência quando se candidata a deputado.
Vejamos uma coisa.
Quantos não são aqueles deputados que se candidatam, e que uma vez eleitos nunca assumem funções?
E quantos autarcas não há que se candidatam única exclusivamente a Presidentes, e que não aceitam ficar como vereadores, mesmo sendo essa a vontade popular?
E eu nunca vi tantas críticas a esses protagonistas políticos, como vi agora em relação a Fernando Nobre.
Sejamos coerentes. Quem está dentro do sistema pode usar estes malabarismos todos, quem está fora do sistema tem de fazer tudo politicamente correcto, caso contrário é violentamente criticado pelos opinian makers da nossa praça.
Não pode ser! É uma injustiça.
Um pouco de decência talvez não fizesse mal a ninguém. E o facto de Nobre ter a expectativa de ficar como Presidente, e de não querer mais nenhum posto, é algo que eu até aceito, embora pessoalmente não enveredasse por aí. Mas acredito que para ele ser presidente da Ami será muito mais aliciante do que ser deputado sem responsabilidade, tanto mais que vivemos uma maioria parlamentar, e ele pode achar que pelo facto de até dentro do partido que o acolheu nestas eleições, ele ser uma persona não grata, porque eles próprios também estão dentro do sistema, e não querem muito que os independentes entrem nos lobys dos políticos profissionais, Fernando Nobre pode pensar que não vai ter grande margem de manobra e poder de influência.
Da mesma forma que também eu compreendo que um autarca ache que é muito mais aliciante fazer outras coisas fora da política, do que ser vereador numa câmara, sobre tudo se não tiver grande poder, isto é, se o elenco do partido vencedor estiver em maioria.
Reparem que ao mencionar este facto dos autarcas, não os estou a criticar. Estou simplesmente a fazer um paralelismo e a dizer que se uns fazem, os outros também podem fazer, e de uma vez por todas devemos abolir a partidarite dos comentários e das intervenções daqueles que se dizem isentos.
Este caso Fernando Nobre deve fazer-nos pensar. E a forma como ele foi assassinado, digo bem, assassinado, deveria, em condições normais, deixar de consciência pesada muitos daqueles que estão sempre a criticar o sistema político, mas agora, que aparece alguém fora da política, vindo da sociedade civil, com uma carreira brilhante, e que até agora era altamente respeitada, em vez de ser compreendido, e tratado da mesma forma que os restantes políticos, foi criticado, ridicularizado, insultado, e até imaginem tiveram a baixeza de colocar em causa todo um trabalho de uma vida.
Que país de medíocres!
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